Risco
fiscal é crescente, mesmo com
relativa estabilidade na dinâmica
de dívida e
menor pressão sobre
a política monetária.
Contribuiu com esse texto Roberto Padovani:
Economista Chefe da Votorantim Corretora
Tendência
de piora fiscal continua. O comportamento recente das contas públicas tem sido
determinado tanto por uma flutuação cíclica das receitas quanto pela sustentação
de uma tendência de alta nas despesas. Não vemos uma reversão deste quadro
em 2014: a retomada gradual da economia tende a moderar a expansão das receitas,
ao mesmo tempo em que o calendário eleitoral eleva o desafio para se ancorar as
expectativas fiscais, mesmo que a influência do ciclo político sobre o comportamento
das despesas não seja claro.
Projeções
indicam resultados abaixo da meta. Apesar de um resultado primário abaixo do
esperado em setembro, marcado em grande medida pelo aumento dos investimentos
públicos, nossas projeções para o superávit primário não se alteraram: 2,0%
do PIB neste ano e 1,5% em 2014. As estimativas consideram, além das receitas de
concessões, as receitas extraordinárias do Refis de R$ 12 bilhões e os
dividendos adicionais de R$ 15 bilhões em 2013. Para o próximo ano, trabalhamos
com receitas de dividendos próximas a R$ 28 bilhões. Os resultados, portanto,
devem ficar abaixo da meta neste ano e no próximo.
Dinâmica
de dívida permanece controlada. Mesmo considerando-se um esforço fiscal menor
que o registrado no período de 1999-2010, os avanços institucionais e de fundamentos
registrados ao longo dos últimos 15 anos reduzem as chances de um aumento
substancial do estoque de dívida e/ou de um choque na taxa de juros. Nossos exercícios
indicam que, caso o PIB cresça entre 2,5 e 3,0%, um resultado primário ao redor
de 2,0% pode ser suficiente para estabilizar a dívida bruta.
Mas
riscos fiscais são maiores. Apesar de uma dinâmica de dívida controlada, os riscos
são crescentes. A dívida bruta ao longo dos últimos anos tem aumentado,
oscilando próximo ao patamar de 60%. Além disso, ruídos de comunicação, problemas
de transparência, aportes do Tesouro no BNDES e a renegociação de dívida de
estados e municípios reforçam a preocupação em relação à trajetória recente de
dívida e dificultam a ancoragem das expectativas fiscais. Este quadro poderia
ser revertido com uma menor expansão dos gastos e avanços institucionais, elevando
a transparência e o comprometimento com metas, o que parece pouco provável.
Política
fiscal torna cenário complexo. Com riscos fiscais maiores, os mercados já trabalham
com um cenário em que as agências de rating reduzam a classificação de risco da
economia brasileira. O CDS de Brasil tem se descolado significativamente de países
como Peru, Colômbia e México. Neste caso, mesmo que o resultado fiscal ajustado
pelo ciclo econômico possa contribuir para melhorar a combinação de instrumentos
de política, reduzindo a pressão sobre o Banco Central, as dúvidas sobre a
solvência do país são crescentes e elevam as incertezas sobre as trajetórias de
câmbio, inflação e juros.
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