Inflação mostra
reversão
Roberto Padovani,
economista chefe da Votorantim/Corretora
O comportamento dos preços de alimentos em 2013 e o aumento do
desemprego em 2014 devem sustentar a lenta convergência do IPCA. O pior momento
da inflação, portanto, pode ter sido superado.
A tendência de alta
da inflação ao longo do último ano, rompendo o limite superior da meta em março
e alcançando 6,7% em junho, pode ser uma das explicações para a piora da
confiança em relação à economia brasileira.
Além do nível
elevado da inflação, chamou atenção a resistência à queda do IPCA. Mesmo com
deflação de preços agrícolas no atacado desde janeiro, medidas de desoneração
da cesta básica em março e queda dos preços de energia elétrica residencial no
início do ano, a inflação não mostrou recuo relevante.
Este ambiente mais
negativo, no entanto, pode ter ficado para trás. Além da retirada dos reajustes
nos preços dos transportes públicos, que nos levou a rever a projeção para
preços administrados para cerca de 1% neste ano, as últimas semanas registraram
uma significativa queda nos preços de alimentos, compensando o atraso observado
no início do ano. Com isso, os preços livres, excluindo-se serviços, mostram
importante recuo.
Deste
modo, o desempenho de preços administrados, preços de alimentos e demais itens
ex-serviços reduzem as chances de uma trajetória de alta persistente da
inflação, tornando factível nossa projeção de IPCA ao redor de 5,7% neste ano,
valor menor que o observado em 2012.
Importante notar,
no entanto, que nossa projeção abaixo de consenso considera uma moeda
brasileira mais apreciada no segundo semestre, refletindo nossa expectativa de
redução dos ruídos em torno da política monetária nos Estados Unidos e das
incertezas em relação ao crescimento chinês. Ao mesmo tempo, trabalhamos com um
cenário de estabilidade para preços de commodities, o que abre espaço para
reversão das pressões inflacionárias observadas em 2012.
A tendência de
queda da inflação deve ser mantida em 2014, reforçando o cenário de reversão do
quadro inflacionário. Apesar de os preços administrados dificilmente repetirem
o desempenho deste ano – projetamos alta de 4,2% para o próximo ano, nosso
cenário considera o aumento da ociosidade na economia, sobretudo por causa do
desaquecimento no mercado de trabalho.
Com menores custos
de trabalho, faz sentido que haja um alívio moderado na inflação de serviços.
Nossa estimativa é que a variação de preços de serviços acumulada em 12 meses
saia de um patamar de 8,6% em junho deste ano e alcance 7,3% em 2014.
O comportamento
mais favorável de preços livres, portanto, compensa as maiores pressões de
preços administrados e contribui para que a inflação em 2014 continue em queda,
alcançando 5,5%.