A tendência de queda da inflação acumulada em 12
meses não contribui para um choque favorável de confiança
Autor: Roberto Padovani
Economista Chefe da Votorantim, Corretora
A inflação acumulada em 12 meses deverá continuar em
queda. A
despeito do forte movimento cambial registrado ao longo dos últimos meses e da
expectativa de alta da inflação mensal a partir de agora, estamos mantendo o
cenário em que o IPCA sustente a atual trajetória de queda. Além de efeitos
estatísticos de curto prazo, dados pela incorporação de taxas mensais de
inflação menores com relação ao ano passado, a queda da inflação de produtos
comercializáveis e não comercializáveis contribui para a continuidade da
convergência da inflação.
Efeito estatístico favorável em 2013. Em um primeiro
momento, há um efeito estatístico importante, gerado por uma base elevada no
segundo semestre de 2012. Neste ano, a desvalorização da moeda não está sendo
acompanhada por uma alta simultânea nos preços de commodities, como observado
em 2012. Neste caso, a pressão cambial recente, mesmo sendo maior que a do ano
passado, tende a produzir efeitos inflacionários mais modestos.
Desaceleração cíclica em comercializáveis. Nos próximos meses,
as menores pressões de preços de alimentos e a hipótese de apreciação cambial
considerada em nosso cenário permitem um recuo da inflação de comercializáveis,
saindo de um patamar de 5,7% neste ano para algo mais próximo a 4,5% em 2014
(Figura 1).
Repasse cambial moderado. Estimamos que uma
desvalorização média próxima a 6%, que considera nosso cenário de câmbio em
2,20 ao final do ano, possa gerar um aumento moderado do IPCA neste ano, insuficiente
para colocar a inflação acima de 6,0% em 2013.
Mercado de trabalho reduz pressão em não
comercializáveis. Os
preços de bens não comercializáveis deverão recuar, dado o esfriamento em curso
do mercado de trabalho. Estimamos que a taxa de desemprego média se eleve de
5,7% neste ano para 6,8% em 2014. Em conjunto com um menor reajuste do salário
mínimo, as condições de renda devem apresentar um desempenho menos exuberante.
Como resultado, a inflação de não comercializáveis sairia de um patamar de 8,5%
neste ano para 7,4% em 2014.
Menos contribuição de preços administrados. Uma desaceleração
mais forte da inflação, contudo, não será possível dado o processo de
normalização dos preços administrados. A defasagem dos combustíveis, em
particular, poderá ser um fator decisivo para que a inflação de administrados
saia de 1,5% neste ano para 3,5% em 2014.
Inércia e expectativas mantêm risco inflacionário
elevado. Projetamos
que o IPCA alcance 5,8% neste ano e 5,5% em 2014 (Figura 2). Dadas as
ineficiências estruturais da economia e as incertezas em relação ao regime de
política econômica, a inflação se mostra persistentemente elevada e contribui
para aumentar a inércia, manter as expectativas desancoradas e dificultar a
recuperação da confiança na economia brasileira.
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