Orçamento público e o clamor das ruas
As manifestações
nas ruas das grandes e médias cidades não foram eventos isolados. Ao contrário,
refletem uma combinação errática de fatos que tornaram o momento brasileiro
muito difícil. À queda nos preços da maioria das commodities agrícolas e
metálicas, exportadas pelo país, juntaram-se o recrudescimento inflacionário, a
deterioração das contas públicas, o baixo nível da atividade econômica e a
desvalorização abrupta da moeda nacional. Juntas essas variáveis tornaram-se
explosivas, dando fim ao longo período de flerte dos capitais estrangeiros com
o Brasil.
Para complicar um
pouco mais, o governo faltou com os seus compromissos em relação às políticas
de estabilização, reduziu a taxa Selic de forma abrupta e a patamares
excessivamente baixos. De igual maneira, faltou com esses compromissos ao
abandonar a austeridade fiscal em nome de um esforço contracíclico não
planejado e casuístico. Para piorar, o Fed anunciou sua intenção de
gradativamente limitar a política de estímulos financeiros e voltar a aumentar
os juros norte-americanos. Riscos menores nos Estados Unidos e remunerações
maiores de seus treasuries contribuem
para que um grande volume de capitais deixe o mercado brasileiro à busca de
refúgio, em rápido regresso, que poderia ser batizado como “o bom filho à casa
torna”.
A
apreensão política e social causada pelos protestos deixarão marcas nas
eleições de 2014. Os partidos do governo devem sair, em alguma medida,
chamuscados desse pleito e as forças políticas deverão se reorganizar em
direção a novos paradigmas.
O
país tem sido apontado como um poupador medíocre e, portanto, dependente de
capitais internacionais para manter o ritmo de investimentos capaz de
impulsionar a economia nacional a taxas superiores. Entretanto, é de se registrar
que apesar da estagnação no índice de consumo e que, mesmo diante de um quadro
de redução do ritmo de expansão do PIB, os investimentos externos diretos
fecharam o primeiro semestre em tornos dos 30 bilhões de dólares.
A
atratividade do setor de infraestrutura, gás e petróleo poderão dar fôlego à
reversão das expectativas e venham produzir um novo influxo de capitais.
Afinal, os protestos têm sido entendidos, antes de qualquer outra cogitação, como
a canalização da frustração popular com qualidade de serviços públicos,
sobretudo nas áreas da saúde, do transporte, da segurança e da educação.
Tudo
mais parece um brado de alerta dirigido a quantos imaginam que a população
possa apoiar um modelo de capitalismo de estado, suportado por práticas
delituosas de seus gestores e pelo alastramento da corrupção na vida nacional.
As
vozes vindas das ruas devem ser recepcionadas como uma exigência da população
para o aumento da eficiência dos serviços públicos, diante de um estado impetuoso
no recolhimento de impostos, perdulário e inescrupuloso em seus dispêndios. É
bem verdade que as demandas sociais cresceram muito nesses últimos anos, mas
não justificam os desmandos econômicos e financeiros do governo central que
agora alega não ter folga financeira em seu orçamento para dar curso ao atendimento
das reivindicações populares.
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