A economia e os gritos vindos da rua
Alguns impactos das manifestações sobre a
economia são mais óbvios. Outros não e vão ocorrer ao longo dos próximos meses.
De início, observou-se a imobilização das
empresas. O comércio e os serviços fecharam suas portas, e as vendas acusaram
esse golpe ao final de cada mês. As contratações de mão de obra igualmente
sofreram reduções. De maneira mais branda, as indústrias também foram obrigadas
a paralisar a produção, preservando seus ativos econômicos e seu capital
humano. Quando esses movimentos atingiram o setor de transporte, os prejuízos agravaram-se
de forma horizontal por toda a economia. Os trabalhadores não conseguiam se
movimentar, ficando impedidos de comparecer aos locais de trabalho.
Em se tratando de longo prazo alguns
efeitos negativos mais perversos são previstos de maneira quase consensual:
1) Investidores são avessos a incertezas. O clima
político deteriorou- se muito fortemente e a base de apoio do governo ficou
estremecida por sucessivas discordâncias com as posições da Presidência da
República.
2) A previsibilidade
política diminuiu muito e as posições das lideranças e das instituições
políticas transformaram-se rapidamente.
3) Os protestos tendem
a reduzir a confiança no desempenho da economia nacional. Essa confiança já
vinha sendo arranhada com a crise de credibilidade provocada pela recente deterioração
do crescimento, no cenário externo. Investimentos, em fase de estudos ou de decisão,
foram descontinuados ou, pelo menos, retardados. Mesmo os investimentos contratados
passam por um período de desaceleração. O movimento de antecipação das remessas
de dividendos também se intensificou e tenderá a ser mais forte quanto maior
for a perspectiva de acentuação da desvalorização cambial, ora em curso.
4) Esses estados de
esgarçamento do tecido social guardam, ao longo da história recente das crises
políticas, forte correlação com as saídas de capitais, transformando - se em
elemento de pressão cambial. Aliás, o fenômeno é sempre mais visível na bolsa
de valores brasileira. O Ibovespa tem um comportamento profundamente negativo
ao longo desse ano e os ativos ali negociados atingiram preços tão baixos que
se tornaram ativos atraentes no longo prazo. A fuga desses capitais afetou de
tal forma as cotações que os programas de recompra começaram a pipocar em junho
e ganharam corpo em julho.
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