Baixo
crescimento e
ciclo político elevam as
dificuldades de ancoragem
das
expectativas fiscais.
Texto de Roberto Padovani - economista chefe da Votorantim Corretora.
Resultados
fiscais de 2013 indicam grande desafio para este ano.
A desaceleração
cíclica das receitas, a política de desoneração de impostos e a tendência de
alta contínua das despesas impediram o setor público de alcançar a meta fiscal
em 2013. Este cenário não deverá mostrar grande alteração: mesmo com um
contingenciamento de despesas, o governo central dificilmente apresentará um
desempenho fiscal melhor neste ano. Da mesma forma, o ciclo político atua
contra um maior esforço de estados e municípios.
Desoneração
tributária e crescimento comprometem receitas. O baixo crescimento
econômico e a reversão apenas gradual das desonerações não permitem um
desempenho melhor das receitas em 2014. Além de a redução de impostos limitar o
aumento da arrecadação, a política de desonerações não ajudou o crescimento: a
carga tributária do setor público consolidado pode não ter se reduzido, o
sistema de impostos permanece complexo e é possível que os estímulos ao consumo
e produção tenham sido atrapalhados pela percepção de que o risco fiscal
tornaria o alívio tributário temporário.
Contingenciamento
é fundamental para atenuar expansão dos gastos. Estimamos que um
contingenciamento próximo de R$ 30 bilhões, que pode atingir principalmente as
despesas de custeio e capital, somado a um cancelamento automático de cerca de
R$ 12 bilhões de despesas vinculadas – gerado pela revisão, ao longo do ano, de
receitas superestimadas – podem gerar um superávit do governo central de 1,5%
do PIB. Em nosso cenário, no entanto, o baixo crescimento e a alta persistente
nas despesas (Figura 1) indicam um superávit menor do governo central, de 1,2%
do PIB. Para os governos regionais, o ciclo eleitoral poderá inibir avanços
relevantes e manter o primário próximo ao patamar atual (Figura 2). Com isso,
não alteramos nossa estimativa de um superávit primário para o setor público
consolidado de 1,5% do PIB para este ano.
Sinalizações da política fiscal devem
influenciar pouco a confiança no País. Temas como inflação, juros
e classificação de risco são incentivos para que o impulso fiscal seja reduzido
e contribua com a política monetária. Por outro lado, incorporamos o cenário de
piora na classificação de risco: as incertezas fiscais permanecem elevadas e
continuam os problemas recorrentes de transparência e credibilidade na gestão
fiscal, uma vez que a discricionariedade nos abatimentos dos investimentos gera
dúvidas quanto à vontade política de se cumprir metas. Neste caso, a ancoragem
das expectativas fiscais, se ocorrer, deverá ser gradual e baseada em
resultados concretos de curto prazo.
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