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terça-feira, 3 de junho de 2014

Câmbio: Tendência de Depreciação

Conjugação de ambiente global mais incerto com conjuntura atual da economia brasileira deve prejudicar fluxos de capitais.
Contribuição de Roberto Padovani.
Economista-Chefe da Corretora Votorantin 
Apreciação cambial de curto prazo influencia pouco as expectativas. A apreciação recente da moeda brasileira produziu impactos moderados sobre as projeções para o final deste ano e 2015, que continuam operando em patamares próximos a 2,40 e 2,50, respectivamente. Em linha com o mercado, nossa visão é de que a moeda deverá se depreciar em relação aos patamares atuais.
Fundamentos revelam tendência de depreciação. Nossos modelos de longo prazo são explicados, em grande medida, por diferencial de juros, diferencial de crescimento e resultado de conta corrente. O déficit em conta corrente deve apresentar alguma queda somente a partir de 2015, mas ainda assim continuará pressionado, e a tendência para os juros norte-americanos é de alta. Além disso, a economia brasileira continuará apresentando taxas de crescimento mais baixas que a média mundial. Portanto, esses fatores sustentam um cenário diferente do observado no período 2002-2011, quando havia uma clara tendência de apreciação cambial. Os fundamentos sugerem agora uma tendência de depreciação da moeda brasileira.
Níveis correntes do câmbio não devem ser mantidos. Além do fato de os fundamentos sugerirem uma tendência de depreciação de longo prazo, nossos modelos de curto prazo também indicam um movimento de depreciação. Se, por um lado, a economia chinesa caminha para um crescimento mais moderado, inibindo altas expressivas de preços de commodities, acreditamos que a continuidade da retirada de estímulos pelo FED elevará a aversão a risco dos mercados. Em particular, acreditamos que os atuais níveis das treasuries não são sustentáveis e refletem uma leitura excessivamente acomodatícia de política monetária.
Cenário local pode acentuar depreciação. A conjuntura atual da economia brasileira pode reforçar a tendência de depreciação no curto prazo. Não apenas em função de um círculo vicioso de baixo crescimento, inflação elevada e deterioração de confiança, mas também do atual estágio das políticas monetária e fiscal: o banco central parou de subir juros, enquanto o viés da política fiscal voltou a ser expansionista. Ainda, o risco fiscal aumentou com a possibilidade de grandes pacotes de resgate a setores específicos, como os de energia e o bancário. O único contraponto relevante, neste contexto, é o fato de que aumentos na competitividade eleitoral têm se mostrado um atenuante do enfraquecimento do real.
Ingressos de capitais devem perder força. Acreditamos que a maior parte do aumento recente dos fluxos de capitais para os mercados emergentes ocorreu em um contexto de fortes incentivos globais à tomada de risco. Neste caso, diante de um cenário de incertezas globais e baixa confiança na economia brasileira, trabalhamos com um cenário de fluxos menos abundantes. Mesmo que o cenário político possa trazer um otimismo de curto prazo, a tendência sugerida pelos fundamentos – externos e internos – continua favorecendo a depreciação do real

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