PERSPECTIVA MACRO: País crescerá menos p/ manter inflação próxima da meta
Veículo: Agência Leia - Data: 28/01/11 - Danielle FonsecaSão Paulo, 28 de janeiro de 2011 - Com a elevada demanda interna e mundial, que estão pressionando preços, a inflação no Brasil poderá chegar facilmente a 7% este ano se o governo não utilizar medidas como o aumento da taxa básica de juros (Selic) e o aumento de compulsório, estimam economistas ouvidos pela Agência Leia. A expectativa é de que será inevitável sacrificar um crescimento maior da atividade e do consumo para controlar a inflação, ainda que para isso tenha de usar instrumentos que refreiem a vontade da nova classe média, com renda crescente, de comprar.
Para o economista Celso Grisi, presidente do Instituto Fractal e professor da Universidade de São Paulo (USP), o controle da inflação se tornou a prioridade este ano e é importante que o Brasil cresça em um patamar mais seguro. Sua previsão é que, em 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) fique entre 4% e 4,5%, já a inflação deve chegar a 5%, um pouco acima do centro da meta, de 4,5%. O Conselho Monetário Nacional (CMN)estipulou que a meta de inflação para 2011 é de 4,5% ao ano, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Porém, para que fique em 5%, Grisi aposta em uma nova elevação de compulsório antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e novas elevações da Selic nas próximas três reuniões, com uma de 0,75 ponto percentual e outras duas de 0,5 ponto percentual cada. Sem essas medidas, o economista acredita que o Indice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, chegaria facilmente em torno de 7%.
"O IPCA-15 [índice de Preços ao Consumiodr Amplo-15], por exemplo, já superou todos os tetos de projeções de mercado. Não há outra saída, vamos ter que reduzir o crédito e arrefecer o ritmo de crescimento, é difícil continuar crescendo no patamar de 2010. Além disso, o governo quer mostrar a retomada da estabilidade financeira e a disciplina fiscal", acredita o professor.
Já a economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander, afirma que o Brasil precisa reduzir a velocidade do crescimento, pois ainda não consegue crescer acima de 4,5% sem ter inflação. "É necessário que a velocidade de crescimento do PIB reduza. Estimamos que o PIB cresceu 7,7% em 2010 e a nossa projeção é de que desacelere agora para 4,5%. Potencialmente, o Brasil não consegue crescer a taxas tão altas, sendo que acima de 4,5% tem pressão inflacionária", afirmou.
Tatiana também lembra que é maior preocupação é a inflação, já que leva à perda do poder aquisitivo. "É mais interessante crescer a uma velocidade menor e não perder poder aquisitivo. Podem ter sidos negociados reajustes de salários em torno de 5%, mas se a inflação for de 6%, há perda", explica.
Alertas
A economista cita os dados de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como mais uma fator que pode significar pressão sobre os preços. O Instituto divulgou esta semana que a taxa de desemprego chegou a 5,3%no ano passado, a mais baixa já registrada na série histórica, o que significa crescimento da massa salarial no mesmo ritmo. Em dezembro, por exemplo, a alta foi de 8,94% em termos reais. Ou seja, inicia-se o ano com o mercado de trabalho aquecido, o que significa demanda aquecida e em última instância, pressão sobre os preços.
Outra situação que dificultará trazer a inflação para a meta, segundo
Tatiana, é que itens de serviços, por exemplo, são parcialmente integrados à inflação passada. Entre os itens, cita os aluguéis, indexados ao IGP-M ou
IPCA, e preços administrados, que têm vínculo forte contratual com a inflação passada. Outros serviços como os de restaurantes e aé de barbearia também tem vinculação.
"Cerca de 45% do IPCA, que é a parte de serviços mais preços administrados, têm algum vínculo com a inflação passada. Outros 23% são alimentação, que também deve continuar pressionando os preços para cima. Ou seja, quase 70% dos itens que compõem o IPCA devem apresentar variação de preços muito acima da meta de 4,5%, sendo que a expectativa é de que a economia ainda cresça. É difícil imaginar que a inflação passada não seja repassada nos preços este ano", argumentou.
Com esse cenário, a economista espera uma alta mais consistente da taxa de juros: a previsão do Santander é que a Selic chegará a 13% este ano, com aumento nas próximas três reuniões de 0,5 ponto percentual e depois mais uma reunião com alta de 0,25 ponto, estendendo o ciclo de elevação pelo menor até julho. Mesmo considerando esse aumento na Selic, no entanto, o Santander projeta IPCA de 5,5%, que só chegaria a 4,5% em 2012. "Sem a política monetária, com certeza ficaria acima do teto de flutuação, facilmente ficaria acima dos 6,5%, que é o teto da meta", afirmou.
Assim como o Santander, o Itaú Unibanco também vê que o mercado de trabalho e demanda aquecidos ainda devem pressionar a inflação este ano. Além disso, destaca que o próprio Banco Central (BC), em Ata do Copom divulgada ontem, cita as taxas de desemprego historicamente baixas.
"A ata explica a necessidade de elevação dos juros em função de uma 'evolução desfavorável' dos cenários prospectivos de inflação e do descompasso do crescimento da demanda e oferta. De fato, o aquecimento da atividade se reflete em uso intensivo dos fatores de produção, especialmente no mercado de trabalho", apontou o comunicado do banco, assinado pelo economista-chefe Ilan Goldfajn e pelo economista Caio Megale.
Com isso a instituição financeira prevê um aumento da Selic ainda este ano de 1 ponto percentual, complementados por medidas como o aumento do compulsório, mas que não serão suficientes para que a inflação não ultrapasse os 4,5% em 2011.
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