Europa busca soluções em duas direções
Celso Grisi*
Existem hoje dois pensamentos dominantes entre as elites europeias direcionando os debates sobre a recuperação econômica da região.Um voltado para as medidas de contenção de gastos e de redução das dívidas dos governos nacionais. A proposta é corrigir os desvios fiscais em que as finanças públicas se perderam. O lado negativo dessa proposta está no seu custo social e político e na estagnação econômica em que ela implica. O período FHC deixou lembranças amargas dos efeitos de medidas dessa natureza, sobretudo, pelas crises internacionais que se sucederam naqueles tempos, e que hoje se reproduzem, castigando a demanda mundial.
Outro pensamento envolve a capacidade de articulação política das economias dos principais atores europeus. A ideia central é que os países possam corrigir suas contas correntes, conduzindo, por essa via, o crescimento da demanda interna. Não dispensa o esforço fiscal, mas minimiza seus efeitos cruéis sobre as populações nacionais. Em outras palavras, as exportações abririam o primeiro caminho para a recuperação, fornecendo novos empregos, reduzindo a ociosidade e os custos dela decorrente, bem como teriam amplos reflexos positivos na renda e no consumo interno.
A Alemanha, nessa proposta, é o exemplo mais citado. Procura manter a qualquer custo sua competitividade e reduzir ao máximo seu déficit orçamentário, com o objetivo de produzir excedentes comerciais expressivos. Deseja muito que esses excedentes venham a se generalizar entre outros estados da Zona do Euro para evitar uma deterioração de suas economias, que ameaça conduzir toda a região à recessão. Aliás, ninguém ousaria discordar, mas como implementar essa estratégia, se todos precisariam exportar mais e importar menos?
Enquanto isso não ocorrer, a Europa terá que fazer esforços de ampliação de sua competitividade. Não pode esquecer, todavia, existem grandes desequilíbrios entre países, no que respeita à competitividade. De um lado, a Alemanha, sempre muito produtiva, libera um forte excedente para exportação, enquanto seus parceiros europeus, como a Espanha, a Grécia e Portugal, apresentam uma competitividade muito inferior. A competitividade explica também parte do problema grego. Não se trata apenas de um problema de despesas públicas excessivas. Seu déficit externo é grande em função de sua baixa competitividade, em termos internacionais, o que acaba impactando suas contas internas. Certamente a prioridade é o ajuste dos orçamentos nacionais, mas não se pode deixar à margem as questões de ajustamentos dos desequilíbrios correntes na zona do euro.
A Alemanha é emblemática. Não mede esforços para reequilibrar suas contas correntes e, simultaneamente, de ampliar sua demanda interna. Reconhece com inusitada clareza a necessidade de reduzir seus excedentes comerciais, criando espaços pela via das importações, para ativar as demandas das economias da Espanha e da Grécia e, assim, favorecer a redução de seus déficits. Isso seria um belo exemplo para os franceses vizinhos dos desastres econômicos peninsulares.
Além dos franceses, o norte europeu poderia contemplar esse pensamento, entretanto os países que gozam de excedentes não se seduzem pela ideia de vê-los diminuídos. Falta um acordo capaz de imprimir uma coordenação política forte o suficiente para produzir o equilíbrio dessa situação, na zona do euro. Evoca-se a ideia da vigilância da competitividade dos países, e se entende que para isso o problema orçamentário é central.
A questão europeia parece mesmo estar ligada à maior capacidade de coordenação central de todas as nações que compõem a Zona do Euro. Trata-se de um fortalecimento das instituições europeias e de uma maior coordenação de suas políticas monetárias e fiscais. O Fundo de Estabilização Europeu é apenas um primeiro passo. E não é pequeno. Esse mecanismo disponibiliza recursos para garantir qualquer caso de quebra na região. Mas isso implica na criação das condições para realização dos ajustes necessários que cada país necessita a fazer.
*Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi é professor da USP e diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Fractal.
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