Depois de números mais
fracos,
o mercado de trabalho deve
reaquecer e favorecer o crescimento,
mantendo em alta as preocupações
com inflação e competitividade.
O texto é de Roberto Padovani, Economista Chefe da Votorantim Corretora.
“A queda quase contínua da taxa de desemprego ao
longo dos últimos anos tem gerado a impressão que o mercado de trabalho não
acompanha o ciclo econômico, mantendo-se relativamente aquecido.
No entanto, quando se avalia o comportamento da
taxa de desemprego em relação a uma tendência histórica, fica mais claro o
relativo desaquecimento do mercado. Tradicionalmente, a diferença entre o
desemprego e seu nível de longo prazo (hiato de trabalho) acompanha o hiato de
crescimento e seu potencial (hiato de produto). Esta relação vale para o caso brasileiro:
quando a economia está aquecida, a taxa de desemprego fica abaixo de sua
tendência de longo prazo, ficando acima deste patamar em momentos de
desaceleração.
De fato, o mercado de trabalho passou a esfriar a
partir do segundo semestre de 2011. Embora as condições de renda sofram
influência de outras variáveis, como salário mínimo e inflação, o esfriamento
tem sido percebido pelo menor ritmo de criação de vagas e formalização do
emprego. É verdade, no entanto, que o mercado de trabalho vem respondendo menos
intensamente ao ciclo econômico. Esta oscilação mais suave pode ser explicada
(a) pela maior formalização do trabalho, que eleva os custos de demissão; (b)
pelas condições demográficas mais restritivas, que geram menor oferta de
mão-de-obra; e (c) pela percepção de que a economia brasileira opera
ciclicamente, incentivando ajustes temporários.
Com isso, é provável que os empresários tenham sido
estimulados a preservar o emprego durante o ciclo de baixa, o que faz com que
não haja contratações relevantes na volta da economia. Em parte, os movimentos
cíclicos têm sido amortecidos por maiores variações nas horas trabalhadas,
evitando ajustes bruscos no nível de emprego.
A partir de agora, no entanto, o mercado de
trabalho pode voltar a reaquecer. Sem choques externos e com estímulos de
política econômica, a economia brasileira deve mostrar recuperação, conduzindo
a um aumento da ocupação. Mesmo longe da exuberância recente, os últimos 2
trimestres já mostram sinais de algum reaquecimento. O aumento da população
ocupada, por sua vez, não deve ser compensado por uma maior oferta de trabalho,
o que poderia elevar o desemprego. Apesar de a recuperação econômica estimular
a procura por emprego, o menor ritmo de crescimento populacional limita a
oferta de trabalhadores.
Como resultado, a inflação de serviços e os custos
de mão de obra podem manter-se pressionados. Seria necessária uma desaceleração
substancialmente forte no mercado de trabalho para se ter algum alívio
relevante nas pressões inflacionárias e nos custos de produção, o que parece
pouco provável do ponto de vista dos custos sociais e políticos.
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