Crescimento orienta
Banco Central
Apesar de a
inflação ter sido o gatilho para o início do ciclo de alta de juros, o
crescimento deve continuar definindo a cautela na condução da política
monetária.Colaboração preciosa de Roberto Padovani – Economista Chefe da Votrorantim Corretora a esse blog.
Apesar dos ruídos
em torno da condução da política monetária, nossa leitura da ata da última
reunião do Copom reforçou um cenário em que o Banco Central continua sendo
cauteloso, retirando os incentivos de política de modo gradual.
Por um lado, a
urgência do realinhamento da taxa de juros pode ter sido estimulada pela ampla
visibilidade política que a inflação gerou. A lógica política pode ter atuado
no sentido de antecipar o ciclo de ajuste, contribuindo para ancorar as
expectativas e contrariando a tese de que constrangimentos políticos poderiam
postergar o processo de ajuste da taxa de juros.
Mas apesar de a
inflação preocupar, com o IPCA acima do limite superior da meta, nossa
avaliação é que os dados de crescimento devem continuar pautando a política monetária.
Isto porque a política monetária opera em um ambiente complexo e atípico. Mesmo
com os juros abaixo do nível de longo prazo, a economia está abaixo do
potencial e a inflação acima da meta. O desempenho da inflação, na verdade, se
deve em grande parte a uma combinação de limitações de oferta de mão-de-obra
(inflação de serviços) com choques de oferta, dados pelas altas de câmbio e
commodities (inflação de alimentos).
Neste ambiente, o
recuo da inflação mensal pode fazer com que o BC se volte aos dados de
crescimento, a exemplo de sua atuação ao longo do segundo semestre de 2012. Em
nosso cenário, a inflação mensal pode mostrar recuo com a retirada dos efeitos
dos choques de oferta: o IPCA acumulado em 12 meses deverá permanecer em
patamar elevado até agosto deste ano, oscilando próximo a 6,3% até agosto,
quando pode passar a recuar e alcançar 5,5%.
Com algum alivio
inflacionário, a estratégia do BC deverá seguir o padrão dos últimos anos: a
taxa de juros tende a se ajustar em relação ao patamar neutro à medida que o
crescimento se ajusta ao produto potencial. Além disso, o BC pode seguir uma
recomendação tradicional: em ambiente de incertezas elevadas, a gestão de
política deve ser cautelosa e fazer menos que a escolha ótima. No caso atual,
informações ainda precárias em torno do crescimento devem conduzir a movimentos
suaves na retirada dos incentivos de política.
Mas apesar de o BC
poder ser cauteloso no ritmo de ajuste da política, faz sentido que o ciclo
seja aquele em que a taxa de juros alcance seu nível de longo prazo. Ainda que
haja dúvidas em relação ao ritmo, a dinâmica de crescimento deve ser favorável,
com a política fiscal contribuindo para o PIB alcançar o seu nível potencial ao
final deste ano.
Nossa estimativa é
que a taxa de 8,50% pode ser compatível com a tendência histórica de queda dos
juros no País, fazendo com que o crescimento se aproxime do produto potencial e
faça a inflação convergir para a média de 5,5%, registrada nos últimos anos.
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