A sinuca é de bico.
A pressão
inflacionária não se desfez, embora tenha reduzido um pouco sua intensidade. A
economia ainda desacelera, mesmo depois de tantos incentivos a sua recuperação.
Nesse contexto - que contrariou todas as previsões oficiais-, e que ameaça
desacelerar a criação de empregos, o Conselho de Política Monetária vai se
reunir na próxima semana para tomar decisões sobre juros e, quem sabe, sobre
câmbio, considerando a necessidade de crescimento e os riscos de inflação.
Deveria também cogitar sobre os impactos na Balança de Pagamentos. Mas isso,
certamente ficará à margem das preocupações atuais, sob o pretexto de que as
reservas ainda são muito grandes.
Em meio às
discussões sobre os rumos da economia nacional, o IPCA de fevereiro deve
apontar para uma inflação já arranhando o limite superior da meta. Haverá
sempre a possibilidade de arguir-se, em favor das autoridades econômicas, que o
regime de metas para inflação é obsoleto e que, no regime de flutuante para o
câmbio, é normal conviver com valorizações temporárias da moeda nacional. Com
isso, a Selic ficaria preservada, poupando o governo federal dos desgastes de
uma alta, e o câmbio combateria a inflação, obrigando o Ministério da Fazenda a
produzir uma nova safra de incentivos, como compensação à competitividade
industrial.
A ata
dessa reunião também poderia enfatizar que a produção industrial de janeiro
está em alta, puxada pelo aumento da produção de caminhões, esquecendo que
fevereiro já registrou uma redução na utilização da capacidade instalada e uma
diminuição, ainda que modesta, da confiança do empresário.
A reversão
do estado letárgico em que o governo lançou a economia nacional pressupõe a
ampliação dos investimentos, segundo o diagnóstico unânime dos especialistas.
Para tanto, será necessário enviar aos investidores estrangeiros um recado
definitivo. A manutenção da Selic no atual patamar aponta para uma política
monetária afastada de seus objetivos centrais.
O momento
sugere que a Selic deveria subir mais expressivamente para afastar as
incertezas e ampliar a previsibilidade dos investimentos requeridos pelas
concessões. Para isso, não basta uma alta cosmética.
Obediente
aos conceitos de que as maldades devem ser feitas de uma única vez e que as
bondades devem ser distribuídas ao longo do tempo, o Copom não deveria perder a
oportunidade de aumentar a Selic em, pelo menos, 0,75 ponto percentual. Os
investidores reconheceriam essa medida e o governo mostraria sua determinação
em produzir crescimento, sem a perda da estabilidade da moeda nacional.
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