O esfriamento do mercado
de trabalho deverá reduzir a pressão na inflação de serviços e, portanto, o
risco inflacionário.
Texto de Roberto Padovani, economista chefe da Votorantim Corretora. roberto.padovani@votorantimcorretora.com.brDesagregando o IPCA em preços administrados, preços de produtos comercializáveis e preços de bens não comercializáveis, é possível perceber que o risco inflacionário poderá continuar em queda ao longo dos próximos meses.
Com o fim do impacto de diversas medidas pontuais,
a inflação de preços administrados pode mostrar normalização a partir de agora,
mostrando tendência de alta em 2014. Não há, por um lado, espaço fiscal para
novos subsídios. Mas, por outro, não há ambiente político para a recomposição
de tarifas. Com isso, este grupo deverá continuar oscilando abaixo do centro da
meta, não implicando riscos relevantes.
Já os preços de bens comercializáveis possuem
natureza cíclica, oscilando ao redor do centro da meta. Estes preços são,
tradicionalmente, influenciados pelo comportamento de variáveis como câmbio,
preços de commodities e choques de oferta. Deste modo, mesmo que o câmbio seja
uma fonte de pressão, os preços de commodities e a produção agrícola contribuem
para que o movimento cíclico seja favorável, devolvendo a alta recente.
Os preços dos bens não comercializáveis,
finalmente, espelham os ciclos econômicos locais. Ao longo dos últimos anos, a
inflação deste grupo tem operado acima do centro da meta e, mais importante,
com uma divergência persistente com relação à meta de inflação, influenciando
fortemente o comportamento da inflação como um todo.
A origem deste movimento está associada,
fundamentalmente, à euforia e aos excessos observados na economia no período de
2006-2010. Os ganhos de termos de troca, o choque favorável de confiança e os
fortes estímulos de política levaram a economia a um crescimento excessivo,
acima tanto do potencial quanto do PIB mundial. Como resultado, produziu-se
excesso em diversos mercados, em particular no emprego. Além disso, a política
de reajustes de salários mínimos também contribuiu para a expansão da renda.
Como resultado, a demanda por serviços se elevou e aumentou o desafio para a
ancoragem das expectativas.
Passada a euforia, no entanto, a correção vivida
pela economia e os ajustes em curso no mercado de trabalho podem reduzir o
risco inflacionário. A política monetária tende a reforçar este ajuste. Como
resultado, tanto a redução no ritmo de crescimento da renda e do emprego quanto
melhorias nas expectativas de inflação permitem recuo da inflação de não
comercializáveis, revertendo uma tendência registrada nos últimos anos. Nossas
projeções indicam relativa estabilidade neste ano e queda mais clara em 2014.
Considerando-se, portanto, a tendência dos principais
grupos que compõe o IPCA, faz sentido que a tendência de queda na inflação
observada neste mês tenha continuidade. Os preços agrícolas no curto prazo e o
esfriamento do mercado de trabalho no médio prazo serão fatores decisivos para
que a inflação alcance 5,7% neste ano e 5,5% em 2014.
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