A normalização da política monetária
nos Estados Unidos não deve manter elevado o risco nos emergentes, atenuando a pressão sobre o real.
por Roberto Padovani - Economista Chefe da Votorantim CorretoraA mudança de viés de política monetária nos Estados Unidos teve um forte efeito sobre as moedas de países emergentes, sobretudo naqueles com fundamentos mais frágeis. Este movimento produziu uma desvalorização próxima a 20% da moeda brasileira nos últimos quatro meses. As moedas de países como a África do Sul, Indonésia e Índia também enfraqueceram mais de 10% frente ao dólar.
Mas este movimento não está associado a uma piora acentuada do quadro externo, como em episódios anteriores. O gatilho para a instabilidade atual se encontra na confiança em um cenário de crescimento nos Estados Unidos, permitindo a normalização da política econômica.
De fato, não houve aumento expressivo da aversão a risco global e os preços de commodities (Figura 1) mostram bom comportamento. Como resultado, o mercado global de moedas não mostra uma fuga por proteção e qualidade, o que seria percebido com uma tendência uniforme de apreciação das moedas das economias desenvolvidas.
O prêmio de risco dos países emergentes, no entanto, mostrou deterioração quase homogênea em junho (Figura 2). Este movimento é explicado tanto pelo (a) temor de uma contração global de liquidez, com reposicionamento de todos os fluxos que migraram para os mercados emergentes nos últimos anos; quanto pela (b) desaceleração econômica nas principais economias emergentes, acompanhada, em alguns casos, de piora de fundamentos.
Dois argumentos sugerem que os patamares atuais de câmbio podem não ser sustentáveis. O primeiro é que a normalização da política monetária nos EUA não necessariamente prejudica os emergentes, uma vez que ela é conseqüência da percepção de que a crise está sendo superada. Com a estabilização do crescimento na Ásia e retomada na Europa e nos Estados Unidos, o comércio internacional e os fluxos de capitais tendem a favorecer os emergentes. Justamente por isso, quando ficar mais claro o novo patamar para os juros longos nos EUA, o prêmio de risco dos mercados emergentes pode recuar.
Segundo, o prêmio de risco do Brasil pode ter um desempenho relativo melhor, dado o atual descolamento em relação a outros emergentes. Os leilões de concessões e a melhoria gradual da condução/comunicação da política econômica podem ser gatilhos para esta correção. Como resultado, o País poderia recuperar parte da atratividade aos fluxos globais.
Dada a elevada imprevisibilidade de curto prazo, o
comportamento do câmbio tende a ser aleatório, inviabilizando qualquer projeção
para o final de ano. Mas no cenário base, que considera os patamares atuais de
câmbio e a hipótese de que os níveis correntes de estresse não são
sustentáveis, o BRL pode alcançar a média de 2,20 em dezembro.
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