A fragilidade econômica
global sugere que a liquidez global seja mantida ou ampliada, sustentando os
fluxos para os mercados emergentes.
Uma contribuição preciosa de Roberto Padovani, economista chefe da Corretora Votorantim
As últimas semanas foram dominadas pelo temor de
que os principais bancos centrais reduzam a liquidez global, diminuindo os
fluxos de capitais para os mercados emergentes.
Nossa avaliação, no entanto, é que há incentivos
para que se evite uma elevação abrupta dos juros longos, mantendo as condições
de liquidez por um bom tempo. A fragilidade econômica faz com que ou não haja
espaço para redução de liquidez, como nos Estados Unidos, ou haja espaço para
aumentar liquidez, como na Europa. Mesmo no caso japonês, onde o sucesso do
afrouxamento monetário é incerto e depende de reformas, uma mudança no viés de
política é pouco provável no curto prazo.
No caso dos Estados Unidos, ainda que a
possibilidade de diminuição do ritmo de compras de ativos tenha sido
considerada de forma explícita, conduzindo ao início de normalização dos juros
longos, a sinalização fundamental é de que a política monetária continuará
altamente expansionista por um período considerável de tempo. Uma melhora
“substancial” no mercado de trabalho, gatilho para diminuir as compras de
ativos, ainda não parece ter ocorrido, e o Fed projeta apenas para o final de
2014 uma taxa de desemprego próxima a 6,5%, uma das condições necessárias para
alta de juros. Ainda, não parece haver grande desconforto dentro do banco
central com o tamanho de seu balanço e seus possíveis efeitos nocivos sobre a
economia. Isto significa que quando as compras de ativos forem interrompidas, a
diminuição do balanço do Fed pode ser lenta.
Na Europa, o BCE ainda enxerga um cenário com viés
negativo para o crescimento e expectativas de inflação bem ancoradas. Da mesma
forma, não apenas o banco central mantém seu compromisso com uma política
ultra-expansionista pelo tempo que for necessário, como também procura
alternativas, como a fomentação de um mercado de dívida colateralizada por
empréstimos a empresas do setor real. Na Inglaterra, a discussão gira em torno
de aumentar ou não as compras de títulos, ao mesmo tempo em que se discutem
medidas para garantir funding ao setor real da economia. O viés,
portanto, parece ser para mais afrouxamento quantitativo, e não menos.
Por último, a alta dos juros longos no Japão não
reflete uma estratégia de retirada de liquidez, mas sim dúvidas sobre reformas
estruturais, problemas de comunicação e ruídos no mercado de títulos. De fato,
os agressivos estímulos fiscais e monetários só podem alcançar o objetivo de
elevar a inflação e impulsionar o crescimento econômico caso sejam acompanhados
por aumento da produtividade e manutenção de um baixo risco de solvência
fiscal. Justamente por isso, o mais provável é que o banco central mantenha o
programa de estímulo e procure elevar sua eficácia, reduzindo as incertezas em
relação aos juros reais de equilíbrio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário