A rápida
deterioração do déficit
em conta corrente eleva as incertezas
em relação ao
câmbio.
A liquidez global e melhores fundamentos domésticos, porém, podem
sustentar o financiamento do balanço de pagamentos.
O texto é de Roberto Padovani, economista chefe da Votorantim Corretoera.
O comportamento da
taxa de câmbio tem estado no centro do debate ao longo do último ano. Os
últimos meses reforçaram esta preocupação com uma combinação de expressiva
deterioração do resultado em conta corrente com aumento das incertezas em
relação aos fluxos de capitais globais.
Em cerca de um ano,
o superávit comercial brasileiro saiu de um patamar de US$ 30 bilhões para US$
8 bilhões. Mesmo que as séries estatísticas da balança comercial possam conter
ruídos, esta rápida deterioração não deixa de estar associada à desaceleração
global, com reflexos nos preços das exportações, à recuperação econômica
doméstica e a condições locais precárias de competitividade. Nossas estimativas
indicam que este movimento de piora possa ter continuidade, com o superávit comercial
encerrando o ano em cerca de US$ 6,5 bilhões.
Somado à aceleração do déficit em serviços
que, liderado pela remessa de lucros e dividendos, pode superar US$ 90 bilhões,
o resultado em conta corrente neste ano pode ser negativo em US$ 81 bilhões. Isto
significa que após quase 2 anos de relativa estabilidade no patamar de 2,2% do
PIB, o déficit saltou, em poucos meses, para cerca de 3,2% do PIB. Nossas
estimativas indicam que o déficit em conta corrente pode continuar piorando e
se estabilizar no patamar de 3,5% do PIB ao longo dos próximos meses.
As condições de
financiamento do balanço de pagamentos, por outro lado, ainda estão
preservadas, ainda que com uma margem menor. Os fluxos estimados para este ano
de investimento direto (US$ 61 bilhões), investimento em portfólio (US$ 23
bilhões) e empréstimos internacionais (US$ 54 bilhões) seriam suficientes para
cobrir as necessidades de conta corrente e amortizações. De fato, ainda vemos
espaço para aumento modesto das reservas internacionais: enquanto a necessidade
total de recursos pode oscilar próxima a US$ 125 bilhões neste ano e no
próximo, os fluxos de capitais podem alcançar o patamar de US$ 130 bilhões no
mesmo período.
Este quadro tende a
gerar volatilidade no mercado cambial, dado que a exposição do País a um
ambiente de incertezas globais se elevou. A maior instabilidade já é um forte
argumento para que a moeda brasileira opere em um patamar mais depreciado a
partir de agora.
Há motivos, no
entanto, para supor que os níveis correntes de câmbio possam conter exageros.
Não apenas a liquidez global e o diferencial de juros favorecem a moeda
brasileira, mas também a retomada gradual do crescimento, os leilões de
concessões de infraestrutura e a maior cautela na comunicação da gestão
econômica reduzem as chances de que uma crise de confiança conduza a uma parada
súbita dos fluxos de capitais.
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