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quarta-feira, 26 de junho de 2013

Contas Externas Elevam Incertezas

A rápida deterioração do déficit
em conta corrente eleva as incertezas
em relação ao câmbio.
A liquidez global e melhores fundamentos domésticos, porém, podem sustentar o financiamento do balanço de pagamentos.
O texto é de Roberto Padovani, economista chefe da Votorantim Corretoera.
O comportamento da taxa de câmbio tem estado no centro do debate ao longo do último ano. Os últimos meses reforçaram esta preocupação com uma combinação de expressiva deterioração do resultado em conta corrente com aumento das incertezas em relação aos fluxos de capitais globais.
Em cerca de um ano, o superávit comercial brasileiro saiu de um patamar de US$ 30 bilhões para US$ 8 bilhões. Mesmo que as séries estatísticas da balança comercial possam conter ruídos, esta rápida deterioração não deixa de estar associada à desaceleração global, com reflexos nos preços das exportações, à recuperação econômica doméstica e a condições locais precárias de competitividade. Nossas estimativas indicam que este movimento de piora possa ter continuidade, com o superávit comercial encerrando o ano em cerca de US$ 6,5 bilhões.
 Somado à aceleração do déficit em serviços que, liderado pela remessa de lucros e dividendos, pode superar US$ 90 bilhões, o resultado em conta corrente neste ano pode ser negativo em US$ 81 bilhões. Isto significa que após quase 2 anos de relativa estabilidade no patamar de 2,2% do PIB, o déficit saltou, em poucos meses, para cerca de 3,2% do PIB. Nossas estimativas indicam que o déficit em conta corrente pode continuar piorando e se estabilizar no patamar de 3,5% do PIB ao longo dos próximos meses.
As condições de financiamento do balanço de pagamentos, por outro lado, ainda estão preservadas, ainda que com uma margem menor. Os fluxos estimados para este ano de investimento direto (US$ 61 bilhões), investimento em portfólio (US$ 23 bilhões) e empréstimos internacionais (US$ 54 bilhões) seriam suficientes para cobrir as necessidades de conta corrente e amortizações. De fato, ainda vemos espaço para aumento modesto das reservas internacionais: enquanto a necessidade total de recursos pode oscilar próxima a US$ 125 bilhões neste ano e no próximo, os fluxos de capitais podem alcançar o patamar de US$ 130 bilhões no mesmo período.
Este quadro tende a gerar volatilidade no mercado cambial, dado que a exposição do País a um ambiente de incertezas globais se elevou. A maior instabilidade já é um forte argumento para que a moeda brasileira opere em um patamar mais depreciado a partir de agora.
Há motivos, no entanto, para supor que os níveis correntes de câmbio possam conter exageros. Não apenas a liquidez global e o diferencial de juros favorecem a moeda brasileira, mas também a retomada gradual do crescimento, os leilões de concessões de infraestrutura e a maior cautela na comunicação da gestão econômica reduzem as chances de que uma crise de confiança conduza a uma parada súbita dos fluxos de capitais.

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