Veículo: G1 - Data: 22/02/2011
Darlan
Alvarenga Do G1,
em São Paulo
Revolta árabe traz mais
pressão inflacionária ao Brasil, dizem analistas
Parte da alta no preço do barril teria ingrediente especulativo.
"A maior preocupação é em relação ao preço do petróleo, que pode também
puxar a alta de outras commodities relacionadas a combustíveis, como soja e
milho”, diz Thais Marzola Zara, economista chefe da Rosenberg & Associados.
“Para um país exportador de commodities como o Brasil, a alta no preço não é
ruim, mas uma elevação dos preços no mercado interno pressiona ainda mais a
inflação”.
Moradores
sobre tanque com a bandeira nacional pré-Kadhafi, nesta segunda-feira (21), na
cidade líbia de Benghazi. (Foto: AP)
O
economista da Fundação Instituto de Administração (FIA), Celso Grisi, destaca
que a alta de preços deverá atingir os produtos petroquímicos como um todo. “Os
países produtores de petróleo estão vivendo um momento de convulsão, com
interrupção de produção e mudança de logística de produção. Com isso, devem
também subir os preços de transporte e de seguros”, diz.
Ele
lembra que a retomada do crescimento nos Estados Unidos e na Europa deve elevar
a demanda por petróleo no mundo. “Os impactos no Brasil podem ser até mais
brandos, mas também não escaparemos”, afirma. “Num país que já fez cortes no
orçamento e aumentou o compulsório, não sobra muito a fazer e o pleno emprego
pode sair de moda”.
Apesar do Brasil ser quase autossuficiente em petróleo, o economista José
Roberto Cunha, da FEA-USP, lembra que o preço do barril é determinado pela
oferta e demanda globais. “A alta certamente será repassada para os preços nos combustíveis,
o que terá impacto nos custos de transporte e de produção”.
O professor das Faculdades Rio Branco, Carlos Eduardo Stempniewski, vê apenas
um efeito positivo na disparada do preço do petróleo: a possível aceleração das
operações do pré-sal. “Para a operação ser viável, precisa de um preço de
barril mais elevado”, diz.
Embora os negócios com os países árabes tenham pouco peso na balança comercial
brasileira, Carlos Daniel Coradi, diretor da consultoria EFC, destaca que em
crises desse porte sempre ocorre a redução do fluxo de investimentos e
transferência de capital para ativos mais seguros como, por exemplo, títulos do
tesouro americano, o que prejudica países em desenvolvimento como o Brasil.
"Com o
real supervalorizado, o Brasil tem atraído muito capital especulativo. No
momento, o país é um destino interessante, mas o volume de dinheiro pode se
retrair caso a tensão nos países árabes comece a afetar a retomada do
crescimento econômico nos Estados Unidos e na Europa”, diz Coradi.
Realinhamento
da diplomacia brasileira
Na opinião da economista Vitória Saddi, professora do Insper (Instituto de
Ensino e Pesquisa), a tensão nos países árabes vai exigir uma austeridade
fiscal ainda maior uma vez que o governo terá maior dificuldade para
administrar o déficit nas contas externas. “Ao que tudo indica, essa tensão vai
durar muito tempo. Lembra muito os acontecimentos de 1989, após a queda do muro
de Berlim”, diz.
A escalada da incerteza nos mercados se deve justamente a dificuldade de se
prever a duração e dimensão das revoltas na região, que ganharam efeito dominó.
“É um estopim de pólvora que a gente não sabe até onde vai e que ainda não
atingiu o maior produtor de petróleo da região, a Arábia Saudita”, completa
Coradi.
O
economista da Fundação Instituto de Administração (FIA), Celso Grisi, destaca
que a alta de preços deverá atingir os produtos petroquímicos como um todo. “Os
países produtores de petróleo estão vivendo um momento de convulsão, com
interrupção de produção e mudança de logística de produção. Com isso, devem
também subir os preços de transporte e de seguros”, diz.
Ele
lembra que a retomada do crescimento nos Estados Unidos e na Europa deve elevar
a demanda por petróleo no mundo. “Os impactos no Brasil podem ser até mais
brandos, mas também não escaparemos”, afirma. “Num país que já fez cortes no
orçamento e aumentou o compulsório, não sobra muito a fazer e o pleno emprego
pode sair de moda”.
Risco de
redução de investimentos no Brasil
Apesar dos reflexos negativos nos mercados, os analistas ressaltam que os
efeitos a médio e longo prazo vão depender da duração da instabilidade nos
países árabes. “Por enquanto ainda são poucos os impactos na economia real. O
que vemos são movimentos de aversão ao risco”, diz Raphael Martello, da
consultoria Tendências.
“Os investidores estão apostando no pior e forçando a subida do preço do
barril”, avalia Carlos Eduardo Stempniewski, professor das Faculdades Rio
Branco. Segundo ele, o Brasil deve ser pouco afetado a curto prazo. “Não
dependemos do petróleo deles. O que importamos vem da rota do Oceano Índico e a
nossa relação comercial mais significativa é com a Índia”, explica.
Embora os negócios com os países árabes tenham pouco peso na balança comercial
brasileira, Carlos Daniel Coradi, diretor da consultoria EFC, destaca que em
crises desse porte sempre ocorre a redução do fluxo de investimentos e
transferência de capital para ativos mais seguros como, por exemplo, títulos do
tesouro americano, o que prejudica países em desenvolvimento como o Brasil.
“Com o
real supervalorizado, o Brasil tem atraído muito capital especulativo. No
momento, o país é um destino interessante, mas o volume de dinheiro pode se
retrair caso a tensão nos países árabes comece a afetar a retomada do
crescimento econômico nos Estados Unidos e na Europa”, diz Coradi.
Realinhamento
da diplomacia brasileira
Na opinião da economista Vitória Saddi, professora do Insper (Instituto de
Ensino e Pesquisa), a tensão nos países árabes vai exigir uma austeridade
fiscal ainda maior uma vez que o governo terá maior dificuldade para
administrar o déficit nas contas externas. “Ao que tudo indica, essa tensão vai
durar muito tempo. Lembra muito os acontecimentos de 1989, após a queda do muro
de Berlim”, diz.
A escalada da incerteza nos mercados se deve justamente a dificuldade de se
prever a duração e dimensão das revoltas na região, que ganharam efeito dominó.
“É um estopim de pólvora que a gente não sabe até onde vai e que ainda não
atingiu o maior produtor de petróleo da região, a Arábia Saudita”, completa
Coradi.