Uma questão de perspectiva
A bolsa fechou a última sessão aos 65.269 pontos. Caiu mais 2,24% só nesse dia. Investidores internacionais estão em fuga. Dólares estão saindo. O real não se deprecia proporcionalmente, indicando a liquidez excessiva da economia nacional. Juros altos e aumentos de compulsório provocam impactos proporcionalmente mais cruéis sobre a produção nacional e menos eficazes sobre a inflação. Os avanços na curva de juros de longo prazo revelam a crença dos agentes econômicos na política monetária e a descrença na política fiscal. Os prometidos cortes no Orçamento Nacional não saem e não há indicações sobre sua natureza e dimensão. O resultado disso tudo é uma abrupta deterioração das expectativas dos agentes.No exterior, a China envolve-se no combate à inflação para a redução das taxas de seu crescimento. O Japão está parado, com taxas de juros baixíssimas e uma longa estagnação. A deflação é o maior risco.
A Zona do Euro administra suas dívidas nacionais e seus déficits públicos. Apenas alguns países sugerem que, no longo prazo, haverá recuperação econômica e alento da demanda agregada.
Nos Estados Unidos os movimentos contraditórios podem ser entendidos à luz do descabimento da liquidez injetada na economia. O desemprego é de 9% e as vagas criadas são muito inferiores ao que se poderia esperar. É muita liquidez para uma reação tão modesta. As dimensões dos déficits (interno e externo) apontam desequilíbrios estruturais gravíssimos nessa economia.
O cenário é espantoso para a bolsa? Considerando-se que ela subia, sustentada pelo mercado interno, alheia ao cenário externo, o que poderia explicar essa queda forte, se nada mudou significativamente lá fora?
A inflação interna, sem dúvida. Esse é o grande fato novo que leva desassossego ao mercado.
A inflação, no entendimento do mercado, fugiu do controle do Governo Central. As expectativas dos preços para o futuro mostram-se em deterioração. O velho hábito das remarcações parece querer voltar. Subir o juro e depósitos compulsórios não pareceu tão eficaz. Maldades devem ser feitas de uma única vez. Não a conta gotas. A confiança externa já não é a mesma e os capitais internacionais, em fuga, mandaram seu recado: o navio precisa de um timoneiro mais confiável. As reduções nos gastos são anunciadas, mas não são realizadas. Falta gerência à política econômica. Nisso tudo, o cenário externo é apenas uma variável contributiva.
É hora de entrar, comprando os ativos mais atraentes, para quem crê que, no curto prazo, as contas públicas serão saneadas. Apresentarão cortes no custeio e a manutenção nos níveis de investimentos. O volume de investimentos é tão grande que é possível crer na sustentação do crescimento econômico interno.
Mas, se há dúvidas, faça como o capital estrangeiro, fuja da bolsa. Renda fixa é o caminho.
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