2011:
um ano de ajustes
Economistas,
consultores e dirigentes do setor ouvidos pela Revista Pellegrino
acreditam que 2011 repetirá alguns dos bons momentos de
2010, mas não terá o mesmo céu de brigadeiro. A palavra de ordem
é, portanto, pisar fundo no acelerador, mas cuidar do planejamento
com extremo carinho.
Revista Pellegrino, edição 109, Texto | Paulo Carneiro
O ex-ministro do Planejamento Roberto Campos (1917-2001) dizia, entre sério e brincalhão, que os economistas são lembrados mais pelos erros do que pelos acertos em suas previsões. As análises especializadas, porém, têm uma importância que vai além do simples
da futurologia. Baseadas em dados concretos, elas ajudam a iluminar os caminhos de quem percorre os labirintos do mercado. Nesse contexto, 2011 tem algumas peculiaridades expressivas,
como, entre outras, a chegada da primeira mulher à Presidência da República, a urgência nos preparativos para a Copa de 2014 e os persistentes espasmos de crise na Europa.
Economistas e consultores de diversas tendências acreditam que os bons momentos de 2010, marcados por recordes nas vendas de veículos, poderão se repetir neste ano, uma vez
mantidos os fundamentos da economia. A tendência é que o mercado continue em alta, assim como os investimentos em infraestrutura, conforme promessas feitas pela presidente Dilma Roussef. A crise na Europa também não será um obstáculo, mas quem sabe uma oportunidade a mais para a atração de investidores.
Vento a favor.
Munido de informações sobre a efervescência do mundo globalizado, o consultor e professor
Manuel Enriquez Garcia, da Faculdade
de Economia e Administração da USP (FEA), começa sua prospecção pelo
comércio internacional.
Segundo
ele, a balança comercial brasileira está
com saldo de US$ 16 bilhões, que,
mesmo positivo, é pequeno para
as nossas necessidades. Já a balança
de transações correntes preocupa
porque,
segundo ele, está negativa. “Precisamos
de uma entrada de
US$ 30 bilhões de capital externo”, afirma.
Garcia admite que não será difícil
atrair tanto dinheiro, até porque os
ventos sopram a favor.
O
professor mantém o otimismo quanto
ao cenário interno, sem rompantes triunfalistas.
“Não tenhamos ilusões. A
economia cresceu a uma taxa de 8% em
2010, só que no vácuo de 2009, que
teve
crescimento de apenas 2%”, diz. “Em
2011, teremos uma taxa de 4,5% a 4,8%
sem maiores problemas, mas é bom
reconhecer que o atual governo não
navegará em céu de brigadeiro, como
o do ex-presidente Lula.” Na
opinião de Garcia, a ameaça inflacionária
levou o Planalto a adotar medidas
restritivas, e outras mais serão
adotadas. Apesar das oscilações, ele
enxerga boas perspectivas para
o varejo puxadas por um aumento da
demanda de bens duráveis e elevação
dos
preços das commodities agrícolas,
favorecendo a expansão nas vendas
de caminhões e máquinas pesadas. “A
produção industrial deve crescer
de 6% a 6,5%, e o governo terá
condições
de preparar as bases para um
cenário melhor em 2012.”
Já
o economista Celso Grisi, da FIA (Fundação
Instituto de Administração),coloca
um pouco de pimenta na discussão ao
realçar as complicações do cenário internacional neste começo de ano. “Temos uma grande movimentação nos países emergentes, mas os desenvolvidos enfrentam dificuldades. Veja o caso dos Estados Unidos, que estão devagar quase parando.” Para Grisi, o melhor é não apostar todas as fichas nessa parceria. “No continente europeu, a situação está melhor nos países do norte, como Noruega, Dinamarca, Finlândia, do que Europa Central, onde o quadro é de desaceleração.” Como Espanha e Portugal passam por uma situação de descontrole
fiscal, só a Alemanha se salva. Na opinião do economista, o déficit desses países deve limitar a importação de produtos brasileiros. “Não vejo motivos para a gente se entusiasmar com o mercado externo. Vamos ter de trabalhar, portanto, com o interno, que tem boas perspectivas. Segundo
ele, o enxugamento de créditos não puniu o segmento de veículos básicos e médios, além do que a renovação da frota dos pesados deverá continuar. “As vendas nesse setor devem se expandir com razoável velocidade.
Se isso se realizar, o comércio de autopeças vai junto, com uma defasagem de dois ou três meses.”
Lição de casa.
Celso Grisi recomenda que o empresário tome providências para não ser atropelado pelos fatos. “A competição será grande. Portanto, é necessário investir mais em tecnologia e inovação. É preciso
investir porque a competitividade tende a ser muito acirrada nesse setor.”
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