Com juro em alta, fuja da aplicação em dólar
Veículo: Portal IGData: - Data: 03/03
Aline Cury Zampieri e Olivia Alonso, iG São Paulo
A nova rodada de alta da taxa de juros, promovida ontem pelo Banco Central (BC) para segurar a inflação, contribui para manter o dólar entre as piores opções de aplicação no curto prazo. Economistas consultados pelo iG acreditam que, nos próximos meses, a tendência é que a relação entre a moeda dos Estados Unidos e o real mantenha-se na faixa entre R$ 1,65 e R$ 1,70, ou seja, sem possibilidade de grandes valorizações. Há pouco, o dólar valia R$ 1,6560.
O economista Alberto Borges Matias, professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP/USP), vê para os próximos meses um equilíbrio entre forças contrárias que deverá manter o dólar um pouco volátil, mas não muito distante da cotação atual.
“A moeda norte-americana já vem oscilando nessa faixa há algum tempo”, conta Henrique Santos, economista-chefe da Ativa Corretora. A estabilidade decorre de uma queda de braço do governo com ele mesmo. Na prática, para evitar a alta da inflação, o BC sobe os juros. Só que elevações da taxa brasileira, já alta na comparação com vários países, faz com que cada vez mais capital estrangeiro se interesse pelos rendimentos dos títulos locais. Com isso, a tendência é que mais capital externo entre no Brasil. Para evitar que a moeda brasileira se valorize demais e prejudique as exportações, o próprio governo entra no mercado de câmbio comprando muitos dólares.
“O BC está jogando pesado no mercado de câmbio, comprando dólares”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Ontem, o dólar caiu à mínima em dois meses ante o real, a poucas horas do anúncio do aumento na taxa básica de juros. Nesses mesmos dois meses, a entrada de dinheiro estrangeiro praticamente se iguala ao volume registrado durante todo o ano de 2010. O ingresso de dólares até 25 de fevereiro somou US$ 21,8 bilhões (R$ 37 bilhões).
A tendência é que o dinheiro continue entrando, e o governo continue “enxugando gelo”. Gonçalves, do Fator, diz que a situação só muda num cenário paradoxal: de muita melhora, ou piora, da economia na Europa e nos Estados Unidos. Se as economias melhoram, atraem mais dinheiro. Se pioram, os investidores ficam sem dinheiro para colocar no Brasil.
Outra possibilidade de entrada menor de dólares no Brasil é o Banco Central da Europa elevar juros, o que aumenta também a atratividade dos títulos naquele continente. Isso pode acontecer, lembram os economistas, se a tensão no Oriente Médio mantiver o preço do petróleo alto por muito tempo. O óleo, base de muitas economias, acaba encarecendo toda a cadeia de produção e elevando a inflação.
Celso Grisi, professor da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do instituto de pesquisa de mercado Fractal, concorda que o dólar não terá uma grande movimentação, pelo menos em curto prazo. Para ele, uma alteração forte no preço da moeda só deve acontecer no fim deste ano. “Só vejo uma mudança maior com a recuperação econômica dos Estados Unidos, mais para o fim deste ano ou início de 2011.”
Segundo ele, com a melhora do cenário norte-americano, aumenta a percepção de risco dos países emergentes, e o fluxo de capitais ao Brasil tende a diminuir. “Por enquanto, a moeda tende a mudar pouco, pois a possibilidade de que o Banco Central consiga comprar tudo o que entra no País, para fazer o real subir, é muito remota.”
Tendência é que a relação entre a moeda dos Estados Unidos e o real mantenha-se entre R$ 1,65 e R$ 1,70, próxima da cotação atual.
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