A
desaceleração econômica eleva o risco fiscal neste ano e coloca restrições
adicionais para o Banco Central.
por Roberto Padovani
Economista Chefe da Votorantim Corretora
Crescimento eleva dúvidas sobre
políticas fiscal e monetária. A
desaceleração da atividade econômica tem gerado dúvidas quanto à administração
conjunta das políticas fiscal e monetária. Por um lado, menos crescimento
implica menor pressão nos juros, mas, por outro lado, a maior fragilidade
fiscal tende a limitar a condução da política monetária.
Atividade gera viés negativo para
receitas. A primeira dificuldade da política
fiscal vem do lado das receitas. A fragilidade do crescimento, associada à
política de desonerações tributárias, tem reduzido a taxa de crescimento das
receitas para níveis historicamente baixos. Além disso, há crescentes sinais de
enfraquecimento intenso do mercado de trabalho, o que afetaria negativamente
fontes importantes de receitas, como as advindas de imposto de renda e
previdência. Em resumo, acreditamos que haja um viés negativo para o desempenho
das receitas, elevando o risco fiscal.
Despesas continuam em alta. Além da desaceleração das receitas, o ciclo político e a crise do setor
de energia contribuem para manter pressionadas as despesas, que continuam
crescendo acima do PIB. Nossas estimativas indicam que essa tendência deve se
manter para este ano.
Resultado primário pode trazer nova
frustração. Dada a frustração com arrecadação e a
manutenção do atual ritmo de expansão dos gastos, estimamos que dificilmente o
governo alcançará a meta para o resultado primário consolidado, mesmo com
receitas extraordinárias elevadas (Refis, dividendos e concessões). Nossa
projeção é de um resultado de 1,5%, abaixo da meta de 1,9% do PIB. Compatível
com as nossas projeções de primário, o déficit nominal tende a caminhar para o patamar
de 4,0% e a dívida bruta pode permanecer em 57% do PIB.
Política monetária opera em ambiente
desafiador. Embora a desaceleração econômica reduza
o risco inflacionário, uma política fiscal expansionista e seus impactos sobre
a taxa de câmbio tendem a pressionar as expectativas de inflação, ainda mais em
um ambiente de elevada persistência inflacionária. De fato, a atual política
fiscal, ajustada pelo ciclo econômico, atenua os impactos contracionistas da
política monetária e, ao mesmo tempo, implica maior dependência de poupança
externa, elevando as chances de piora na classificação de risco e reforçando a
tendência de desvalorização cambial.
Próximo ano deverá mostrar ajuste. Independentemente do resultado eleitoral, acreditamos que haja incentivo
para um ajuste no próximo ano, tornando a política fiscal contracionista. Em
particular, uma menor pressão por gastos, elevação da TJLP e alta de alguns
impostos e contribuições podem retirar parte da pressão sobre o Banco Central.
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