Vale do Paraíba, museu da colonização paulista a céu aberto. Para esses dias de descanso
A história do Vale do Paraíba, região colonizada a partir do século XVI, pode ser conhecida por visitas às suas igrejas. Terra de Nossa Senhora Aparecida, de Frei Galvão e de centenas de "santos" populares, a cultura do Vale do Paraíba ainda está viva. Na música, embora tenha o cantor e compositor Zé Mira nos deixado tempinho atrás, na religiosidade de seu povo, nas festas caipiras, no folclore, na culinária, nas suas romarias e cavalhadas.Igrejas erguidas entre os séculos 17 e 20 constituem-se em acervo arquitetônico de inigualável beleza. Da simplicidade do rústico à sofisticação da riqueza nascida do ouro, do do café e caca-de-açúcar, a região hospeda a memória da ascensão e da decadência de uma economia rural. A recomposição econômica veio mais recentemente com um período de industrialização e desenvolvimento tecnológico. Tudo, numa mistura de passado e futuro. Fazendas com suas sedes coloniais do século XVIII rivalizam-se com centros universitários e de pesquisas, quase tudo voltado à inovação. Faz gosto.
Corremos o risco de perdermos, nos bastidores das cenas e das paisagens renovadas do Vale, a história construída por meio da fé, que deu origem aos povoados, ao comércio, à economia, às rotas e às cidades. Corremos o risco de ver perdida a importância estratégica do rio Paraíba na história de nosso estado. Taubaté é uma espécie de centro histórico do Vale do Paraíba. Acho que uma visitação ao Vale começa pelo local onde hoje é o centro da cidade. O bandeirante Jacques Félix, - enviado pelo Capitão-Mor João de Moura Fogaça, em 1636, construiu aí a igreja de São Francisco das Chagas, hoje chamada de igreja Matriz, ostentando uma riqueza cultural de quatro séculos . Nesses 373 anos, a igreja foi reformada várias vezes, mas não perdeu todo o traçado original. O altar mantém o estilo colonial. A Matriz de São Francisco das Chagas e o Museu de Arte Sacra de Taubaté ainda possuem imagens do início da colonização.
Os desbravadores que chegaram com Jacques Félix formaram um caminho, ao longo do Rio Paraíba, cruzaram a Serra do Embaú (hoje Minas), encontraram ouro e formaram todas as cidades do Vale do Paraíba e algumas outras de Minas Gerais. Merecem ser visitadas as igrejas construídas em Cunha, na Serra da Bocaina. Aliás, a Serra da Bocaina merece ser visitada inteira. O Morro dos Macacos, perto de Silveiras, guarda as melhores cachoeiras e recebe os ventos mais forte vindos do mar. Na praça central de Cunha há uma igreja ao lado da outra. Nos anos de 1.700, o hábito era construir uma igreja para brancos e outra para escravos. No litoral norte, a igreja do Convento de Nossa Senhora do Amparo, em São Sebastião, é uma das poucas que não foram alteradas. Em Pindamonhangaba, a matriz foi construída no século XVIII. O interior é ornamentado por vários altares e uma pia batismal.A Basílica do Senhor Bom Jesus, em Tremembé, é uma das maiores igrejas pitoresca da região e também uma das mais antigas. A praça central da cidade, onde está a igreja, era parada obrigatória, no século XVII, de tropeiros que tinham como destino Minas Gerais. Daí surgiu a necessidade de construir uma capela. Na época, foi chamada de Nossa Senhora da Conceição. Em 1673 recebeu a imagem do Senhor Bom Jesus, que se tornou padroeiro da cidade. Construída a partir de 1660, em estilo neoclássico, tem uma decoração barroca. Atrás da igreja está a Bica da Água Santa. Segunda a lenda, um homem montou uma barraca ali e desapareceu. No mesmo local foi deixada uma imagem de Bom Jesus. Quando os moradores retiraram a imagem do chão, apareceu a bica. Mistério popular que não poderia se perder no tempo.
Uma dica final para quem gosta de trilhas ou de caminhadas em grupo. Em Cunha, se a estrada de terra permitir, tente alcançar o litoral em meio à mata atlântica. A flora e a fauna são apaixonantes.