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sábado, 26 de dezembro de 2009

Interiorização da economia

Valorização das economias regionais
Carta Capital/Economia 17/12/2009 - André Siqueira
"Nossa intenção é ocupar todos os estados do País e, se possível, estar presente em todos os municípios”, declarou o presidente do Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz, ao anunciar a fusão com as Casas Bahia, na sexta-feira 4. A operação vai resultar na criação de uma cadeia de 1.050 lojas, presente em dezoito estados. Mesmo assim, a frase do empresário deixa claro que não há intenção de parar de inaugurar, ou comprar, pontos de venda País afora. Diante de tanto ímpeto, cabe uma simples pergunta: para que crescer tanto?
Com a palavra o Bradesco, que tomou para si, na atual campanha publicitária, um mote adequado a quaisquer setores que lidem diretamente com o público: presença. O banco anunciou em novembro a abertura da última agência necessária para garantir cobertura plena do território nacional. Coincidência ou nem tanto, os resultados do Bradesco no terceiro trimestre deste ano o devolveram ao topo do ranking de rentabilidade no setor financeiro, segundo a consultoria Economática.
“Se nossa estratégia estivesse errada, não teríamos chegado aonde chegamos”, resume o diretor-executivo da instituição, Odair Rebelato. “Existe uma mobilidade social muito visível em curso no País. quem está no varejo tem de aproveitar o momento.”
A tendência é ressaltada pela consultoria Deloitte no recém-divulgado relatório O Varejo no Novo Cenário Econômico. “Ao lado dos movimentos de consolidação e estruturação internos, os supermercados buscam expandir suas bases de lojas e adquirir outras redes e novos formatos. Nos últimos anos, a expansão do consumo das classes de baixa renda, por meio do aumento da massa salarial ou dos programas federais de transferência de renda, vem impulsionando o crescimento do setor, principalmente das lojas de pequeno formato instaladas em bairros de grandes centros”, descreve o documento.
A busca de crescimento orgânico, ou seja, a abertura de pontos de venda em mercados não explorados pelos concorrentes diretos, pode ser uma estratégia dispendiosa, segundo Meirelles, do Data Popular. “É preciso dar mais autonomia aos gerentes de loja e investir pesado em ações de relacionamento com o público da região, acostumado a ver o comerciante local patrocinar quermesses e festas de bairro”, afirma.
Para o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP e diretor do instituto de pesquisas Fractal, Celso Grisi, a tendência de interiorização da atividade econômica se desenhou há mais de uma década, com a ampliação da oferta de infraestrutura e serviços de tecnologia. “Sem estradas, telefonia, energia elétrica e, mais recentemente, o acesso à internet, essa expansão não seria possível”, lembra o professor. E ressalta que o Bradesco aposta na inclusão de clientes em regiões mais distantes por uma questão de “vocação”.
“Foi ideia do Amador Aguiar (fundador do Bradesco) criar as chamadas agências pioneiras, às quais muitas vezes só se chegava de barco”, lembra Grisi. A chegada dos bancos aos últimos rincões do País,- de acordo com o professor, permite que agora, diante de um cenário de melhora da distribuição de renda entre classes sociais e regiões geográficas, as empresas mais bem posicionadas colham os benefícios do ganho de escala – que não estão restritos à área de varejo. “Basta verificar a corrida das construtoras por lançamentos em cidades de médio porte”, diz.
Grisi também identifica oportunidades de interiorização da oferta de crédito por cooperativas e financeiras, que perderam espaço nas capitais. “Os pastinhas (vendedores independentes de produtos financeiros) ainda são figuras importantes em pequenas cidades, que começam a ser exploradas pelos bancos médios”, conta. O professor observa o crescimento, fora das capitais, de diversas atividades. Algumas mais recentes, como a distribuição de medicamentos genéricos, impulsionada por programas públicos, como as farmácias populares. Outro caso é o das revendas de automóveis, que há cerca de dois anos se retraíam e agora voltam a abrir unidades no interior. “A diferença é que agora o movimento é sem volta. Todas as previsões apontam para o crescimento do País e não há como deter o processo de redistribuição da renda”, conclui.

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