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sábado, 26 de dezembro de 2009

Sistema bancário mundial, sem riscos

Bodes, milhos e paióis
Sobre regulamentação bancária, o mundo aprendeu uma dura lição: não se pode pedir que o bode tome conta do milho. Quem, então, deve assumir o paiol?Várias alternativas estão sendo estudadas, em todo o mundo. A Comissão Européia, órgão executivo da UE, já colocou na mesa sua proposta. Alguns acadêmicos e uns tantos executivos de Bancos Centrais também já trouxeram suas proposições. Os políticos estão alvoroçados. E não é à-toa que estejam. Os estados nacionais, sob gestão desses homens, resgataram uma grande parte de seus papéis e funções, retomando, para eles, o poder perdido a favor das corporações durante todo o período de globalização econômica. A convicção é generalizada: não se pode acreditar em auto-regulamentação quando o assunto é bancos. Pior, não se pode deixar que os bancos quebrem, como se faz com  empresas de outros setores. Eles arrastariam toda a economia de roldão. Cunhou-se, então, mais uma expressão popular de grande sabedoria:"bancos grandes são inquebráveis".
As propostas de mudança na regulamentação do mercado financeiro apresentam já alguns consensos que devem nortear os esforços de estabilidade do sistema bancário internacional. O mais óbvio é a redução da alavancagem das instituições consideradas “inquebráveis”. Medida saudável, sem dúvida, lembrando, entretanto, que essa decisão reduz a rentabilidade do negócio financeiro. Outro consenso, inegavelmente necessário, é o da redução da exposição dos bancos a riscos sistêmicos. Para ter eficácia essas medidas naturalmente pressupõem a criação de instrumentos de supervisão, no âmbito dos governos nacionais ou das instituições supranacionais, bastante eficientes. Isso passa pela formulação de um novo marco regulatório para o exercício dessa atividade. Passa também por uma normatização contábil, capaz garantir demonstrativos financeiros fiéis e transparentes. Coisa um pouco acadêmica para o pragmatismo dos banqueiros mundiais.
Capítulo importante, mas para o qual as propostas ainda não conseguiram contemplar suficientemente, é o dos riscos de operações com securitização de dívidas de estados ou de grandes grupos. As operações de derivativos devem inserir-se aí e serem objeto de especial atenção regulatória. Como? É o que, ainda, se discute.
Também têm trazido preocupações, as aquisições alvancadas nas operações de private equity e outras realizadas com os chamados hedge funds.
Maior segurança e maior liquidez marcam todas essas medidas desenhadas para o novo sistema financeiro mundial. Todas implicam redução dos lucros das instituições e restrições às formas societárias, com finalidades específicas nesse campo. Tudo a ser controlado por tecnocratas. Eles serão o dono do paiol?
Não acredito possível. Bônus e lucros transformaram-se vilões do capitalismo. Não haverá bodes e se não existir milho. O conteúdo das propostas são legítimos, mas irreais. Baixos lucros, bônus reduzidos, riscos eliminados.Curioso, e difícil de explicar para os banquieros, não lhe parece?

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