Banco privado faz crédito ir a R$ 1,5 tri
Veículo: DCI - Data: 24/06/10 - Fernando TeixeiraSÃO PAULO - Balanço do Banco Central (BC) mostra que o estoque das operações de crédito no sistema financeiro cresceu 2,1% em maio em relação a abril, totalizando R$ 1,5 trilhão ao fim do mês. No geral, o aumento em doze meses contabilizados a partir de maio de 2009 foi de 19%, e o crédito já representa 45,3% do PIB nacional. A velocidade de expansão preocupa especialistas consultados pelo DCI.
O BC justificou o aumento da porcentagem em relação ao PIB pelo aquecimento da demanda por financiamentos habitacionais e investimentos. Em abril, a relação PIB e crédito era de 44,8% e de 41,4% em maio do ano passado, 3,9 pontos percentuais menor que a registrada agora.
No mês de maio, o saldo disponível entre recursos livres e direcionados para o crédito de pessoas jurídicas totalizou R$ 814,399 bilhões. Resultado 2,2% maior frente ao de abril. No acumulado dos 5 primeiros meses do ano a alta é 3,7%. No acumulado de 12 meses, o crescimento do crédito a empresas é de 18,6%.
Também com comportamento de alta, o crédito para pessoa física mostrou aumento de 2%, o que totalizou R$ 685,917 bilhões de saldo ao final de maio. No ano, a alta é de 7,9%. Já no período entre maio do ano passado e deste ano, o salto foi de 19,4%.
O chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, Altamir Lopes, previu uma acomodação no futuro do crescimento do crédito, mas ponderou que o tempo desse processo é diferente do prazo em que o aumento da taxa Selic tem impacto na economia.
Segundo ele, outras variáveis importantes influenciam o crédito. Entre essas variáveis, ele citou a confiança do consumidor, disponibilidade da oferta de crédito e situação de emprego e renda. "Temos uma situação de emprego bastante favorável, as pessoas podem comprometer a sua renda com uma prestação", ressaltou.
Análises
Os especialistas consultados pelo DCI são unânimes em dizer que a relação entre o PIB e o crédito é baixa e que a velocidade de crescimento é muito alta.
Um dos mais pessimistas com a fotografia do momento é o economista do Instituto Fractal, Celso Grisi. Segundo ele, até agora o PIB nacional foi inflado com taxa Selic menor do que a atual e com subsídios do governo em empréstimos, como o imobiliário, por exemplo. "Há uma grande demanda e a consequência é um aumento de preços e alongamento de prazos, pois o tomador não pode pagar mais do que o preço do aluguel mensal."
Para ele, o risco de bolha é grande, tendo-se em vista uma redução de postos de trabalho e um arrefecimento da economia nos próximos anos. "Chegamos aos 45% do PIB: já é hora de frear. Embora em outros países a relação seja maior, temos de lembrar das crises geradas em consequência deste comportamento."
Grisi defende que tanto governo como pessoa física devem começar a fazer poupança. "Todos deveríamos ter reservas. A política de crédito está muito agressiva. Precisamos reduzir spread de modalidades como cartão, cheque especial", recomenda.
Outro especialista que se assusta com a velocidade de crescimento da relação PIB e crédito é professor de Administração da ESPM Adriano Gomes. "O problema está na taxa de crescimento do indicador nos últimos anos. Estamos forçando o crescimento por crédito, não com investimento em infraestrutura, renovação de máquinas e equipamentos" , argumentou.
Segundo ele, a bolha é crédito de consumo. Gomes argumenta que se as camadas C e D perderem emprego, a inadimplência pode se tornar alarmante. "As camadas emergentes ainda não sabem usar corretamente o crédito. É um índice que pode subir rapidamente e sem controle."
No mesmo viés de pensamento, a economista da Lerosa Investimentos Claudia Kodja argumenta que o governo tentou acalmar o mercado com as declarações de ontem. "Embora o banco diga que os resultados estão em acordo com o crescimento do Brasil, podemos analisar a fala como marketing."
Ela ressalta que a demanda por crédito e consumo estão muito aceleradas. "O governo tem de subir a Selic para arrefecer o consumo. Algo está errado."
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