Fazenda eleva projeção para investimentos
a 19% do PIB
DCI - 11/06/10 - Fernanda BompanSÃO PAULO - Conforme anunciado pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o governo refez seus cálculos e, segundo o boletim Economia Brasileira em Perspectiva, divulgado ontem, o Ministério da Fazenda estima que a taxa de investimento da economia brasileira será de 19% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010.
De acordo com o documento, o investimento público (governo federal e empresas estatais) deve atingir neste ano 3,3% do PIB. Em 2009, o investimento público foi de 3% do PIB. O documento também aponta a previsão de crescimento do PIB para 6,5%, com base nos resultados do primeiro trimestre deste ano.
A Fazenda aproveita a análise sobre os investimentos para responder às críticas de que a economia brasileira tem uma baixa taxa de poupança, o que impediria um ritmo de crescimento muito forte de forma sustentável. Os assessores do ministro da Fazenda, Guido Mantega, evocam a tese de origem keynesiana de que o investimento precede a poupança, a partir do momento que promove expansão da renda das empresas e das famílias.
"A taxa de poupança doméstica da economia brasileira é compatível com a maioria das economias ocidentais, principalmente aquelas que proporcionam maior transferência de renda às classes baixas por parte do governo. Isso não impediu que a taxa de investimento público e privado crescesse no Brasil nos últimos anos", afirma o documento. "Ao contrário, o maior volume de transferências de renda tem ajudado a ativar a demanda doméstica, gerando maior crescimento econômico e investimentos público e privado. É este ciclo virtuoso que faz aumentar a poupança doméstica e, simultaneamente, o PIB do País."
Segundo a Fazenda, a taxa de poupança brasileira, que atingiu 15,8% do PIB no primeiro trimestre deste ano (ante 14,3% no final de 2009), deve continuar aumentando, de modo sustentável e sem prejuízo para o dinamismo da economia do Brasil.
O estudo critica, ainda, comparações da poupança brasileira com a asiática. "É inadequado comparar nossa poupança com economias asiáticas como a da China, onde a taxa chega a 43% do PIB devido a uma estrutura de custos e benefícios totalmente diferente dos países ocidentais. As empresas, por exemplo, estão submetidas a baixos custos trabalhistas e câmbio favorável, o que se reverte em elevada lucratividade e, portanto, poupança", ressalta. "As famílias chinesas, por sua vez, precisam poupar grande proporção da sua renda para cobrir o consumo futuro com educação universitária, previdência e casa própria", complementa.
O professor e diretor presidente da Fractal, Celso Grisi, acredita ser possível que a taxa de investimento deste ano alcance 19%, índice este bastante importante para o crescimento sustentável do País. "Com um crescimento econômico consistente, aumento da renda, do emprego e do crédito, não há alternativa para o empresário a não ser investir. Investimento este direcionado para modernizar o parque industrial, com aquisição de máquinas e equipamentos, elevando, assim, a FBCF [Formação Bruta de Capital Fixo]", explica, acrescentando, que tudo isso é possível caso não ocorra outra crise internacional.
PIB
A última projeção oficial do governo era de expansão de 5,5% para o PIB em 2010. Na última terça-feira, quando o IBGE divulgou o resultado do PIB do primeiro trimestre, Mantega afirmou que a projeção de crescimento iria subir para a faixa de 6% a 6,5%. Na quarta-feira passada, o ministro do Planejamento também adiantou que o avanço de 9% da economia dos três primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, influenciaria na mudança de perspectiva de governo. "Devemos crescer de 6% para mais neste ano", comentou ele durante um evento em São PauloSegundo o documento da Fazenda, a projeção de crescimento médio, de 2009 a 2014, é de 5,5%. O boletim destaca a forte expansão do primeiro trimestre do ano frente aos últimos meses do ano passado que, em termos anualizados, alcançou 11,4%."O incremento do PIB é importante, pois gera empregos de qualidade e proporciona um aumento de renda para o trabalhador. Crescimento que gera aumento do consumo e da arrecadação de tributos pelo setor público", comenta o professor da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite.
No entanto, ele ressalta que o problema é que não é viável ter um PIB elevado sem que aumente a taxa de investimento da economia. "Isto possibilita o aumento da inflação e o governo tem de subir a taxa de juros [Selic]. Juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam o consumo. Aí entramos no círculo vicioso: mais juros, empréstimos mais caros, menos consumo, menos empregos, menos renda", entende.Alcides Leite acredita que com o patamar de 19% do PIB da taxa de investimentos, a economia brasileira não avançará mais do que 5% ao ano por vários anos. "É necessário, subir a taxa para pelo menos 25% do PIB", indica.
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