Com demanda menor, varejo resiste em repassar inflação
Veículo: DCI - Data: 17/06/10 - Karina NappiSÃO PAULO - Os índices de inflação mostram que a alta nos preços verificados no atacado ainda não foram repassados ao consumidor final. O Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) teve forte alta, passando de 1,11% em maio para 1,30% em junho. A alta nos preços foi puxada, principalmente, pelo Índice de Preços no Atacado (IPA), e pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que correspondem por 60% e 10% respectivamente do IGP-10. Enquanto isso, os preços ao consumidor continuam em deflação.O minério de ferro mais uma vez foi destaque entre os preços pesquisados no atacado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo afirmou o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros. "O avanço no preço do minério, que subiu 51,84%, é reflexo de um reajuste em torno de 100% promovido pela Vale em abril", frisa.
Mesmo admitindo o impacto expressivo do minério na inflação de junho, medida pelo IGP-10, Quadros fez uma ressalva. Ele comentou que, por conta do minério, os IGPs estão iniciando uma fase de desaceleração. Entretanto, o especialista não fez previsões sobre como ficaria a trajetória dos IGPs nos próximos meses, caso se confirme as notícias de um novo aumento no preço do produto.
Para Mauro Calil, professor do Centro de Estudos Calil & Calil, a tendência é de repasse dos preços no médio prazo.
"Os IGPs tendem a recuar, em decorrência do aumento da taxa de juros, da retirada dos incentivos financeiros como o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], enquanto os índices de varejo tendem a apresentar alta inflacionária pelo repasse nos preços dos produtos que são comprados no atacado", argumentou Mauro Calil. Segundo Celso Grisi, diretor da Fractal, a inflação será aproximadamente 1 ponto percentual acima da meta de inflação (4,5%), para isso haverá uma inversão dos resultados atuais.
"A tendência será de acomodação, todos os índices vão refletir a política fiscal. A inflação será de 5,3% ou 5,2% no fim deste ano, ou seja, todos os índices vão em direção ao centro da meta, sendo assim, os IGPs vão recuar e o IPC vai crescer. Com isso, vão se igualar."
Resultados
O IGP-10 de junho acelerou em relação à apuração de maio, mas apresentou queda na comparação com o IGP-DI de maio (1,57%). A alta é ainda fruto do reajuste do minério de ferro (51,84%, ante 21,02% em maio), que puxou o IPA-industrial para 2,23% (ante 1,24% em maio) e o IPA para alta de 1,68% (1,34%). Na direção contrária, vieram a baixa do IPA-agrícola (-0,04%, ante 1,65%) e a dos Bens-Finais, que na análise por estágios da produção caíram 0,62% no mês (0,82% na medida de núcleo que exclui combustíveis e alimentos in natura), analisou a Rosenberg Consultores Associados.
"Do lado dos preços ao consumidor, o IPC marcou deflação de 0,01% ante alta de 0,64% na apuração anterior, puxado, sobretudo, por Alimentos em queda [-1,05%, ante 1,21%]. O INCC, por sua vez, foi impulsionado pelo dissídio trabalhista em São Paulo, que trouxe os custos de Mão de Obra para alta de 3,30% e o INCC para uma forte aceleração [2,01%, ante 0,77%], sendo que Materiais, Equipamentos e Serviços também contribuíram para o resultado, embora em menor medida [foram de 0,47% em maio para 0,83% em junho]", aponta o documento da empresa.Por outro lado o Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) voltou a mostrar deflação, ao recuar para 0,04%, ante aos 0,21% da última leitura semanal. Segundo a fundação, este foi o menor resultado para o indicador desde a quarta semana de setembro de 2008, quando o índice registrou queda de 0,09%.
Das sete classes de despesa usadas para cálculo do IPC-S, seis apresentaram decréscimos em suas taxas de variação de preços.
As classes de despesa que apresentaram inflação menos intensa, ou até mesmo deflação foram alimentação (de -0,46% para -1,05%); habitação (de 0,71% para 0,56%); vestuário (de 1,44% para 1,12%); saúde e cuidados pessoais (de 0,54% para 0,44%); educação, leitura e recreação (de 0,09% para 0,01%); e despesas diversas (de 0,44% para 0,34%).
A aceleração do IGP-10 de junho para 1,30% foi puxada pelos preços no atacado, e economistas acreditam que os preços no varejo devem começar a subir no curto prazo.
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