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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Juros, financeiras e bancos pequenos e médios


O GOVERNO ATIROU NO QUE VIU E
ACERTOU O QUE NÃO VIU
Veículo: Agência Estado  -  17/04/2012
Por Celso Grisi*
Medidas de urgência são implantadas considerando necessariamente as consequências positivas que possam produzir. As negativas, porém, não costumam ser pensadas completamente.
Já estava bem difícil garantir condições de competitividade para os bancos pequenos e médios. Com a redução dos juros promovida pelo governo federal por meio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, essa situação vai agravar-se, podendo até, em breve, impossibilitar a sobrevivência desses agentes financeiros de dimensões menores.
O problema é o custo dos fundings. Para os menores, esse custo é sempre muito alto em função das avaliações de seus riscos e dos recentes rebaixamentos de suas notas nos ratings mais tradicionais do setor. O resultado óbvio de tantas instabilidades e mazelas patrocinadas
pelo sistema financeiro mundial é que a captação encareceu-se de maneira exagerada para esses bancos.
Até pouco tempo, os spreads bancários, tradicionalmente alentados em nosso país, permitiam a sobrevivência dessas instituições, ainda que solicitando, de quando em vez, os cuidados especiais do Banco Central e a boa vontade dos bancos grandes em comprar seus poucos ativos de crédito saudáveis.
Nas duas últimas semanas, medidas monetárias de qualidade duvidosa foram associadas ao novo pacote econômico para forçar a queda das taxas de juros reais, praticadas no país. Ao invés de amparar-se em condições reais de mercado, reproduzindo as verdadeiras condições da oferta e da demanda de moeda, as autoridades preferiram introduzir o artificialismo
monetário. Usaram os bancos oficiais para derrubar juros e spreads sem maiores considerações sobre seus efeitos adversos, afetando as relações entre o setor privado e o público de maneira perigosa e opondo agentes financeiros que, diga-se em nome do bom senso, deveriam cooperar. Com isso, condenou os pequenos a desaparecerem do cenário, uma vez que, impedidos de trabalhar seus custos na ponta da captação, praticam taxas superiores nos empréstimos que concedem, só aceitos por segmentos de risco de crédito mais elevado. Esse mecanismo de sobrevivência é tanto mais cruel, quanto, a cada empréstimo concedido, mais circunscreve os
bancos menores a mercados de alta inadimplência. Daí porque, nos rankings, ocupam sempre as piores posições, retroalimentando a autofagia cruel do processo de seus próprios desaparecimentos.
Essa lógica inclui também as financeiras que não estão associadas aos bancos de grande porte. Elas deverão tornar-se redutos da desintermediação bancária. Delas se servirão apenas as populações esquecidas pelas autoridades econômicas e que agora ficarão condenadas ao pagamento das mais altas taxas de juros de todo o mercado.
Sem atentar para essa realidade, o governo apela para a retórica da ameaça e, com isso, pretende baixar juros e as margens da intermediação, comprimindo os spreads a níveis asfixiantes para os players menores.
Embora a eventual possibilidade da redução de seus custos seja sempre uma alternativa a ser discutida, seria preciso que o Banco Central reduzisse os custos produzidos pela regulação sobre os bancos menores, o que talvez expusesse toda a sociedade a efeitos não desejáveis. Ao reduzir a regulamentação e, portanto, os custos dela decorrentes, o Banco Central também teria um menor acompanhamento e controle das posições dos bancos pequenos e médios, o que poderia aumentar o risco de surpreender depositantes e investidores com uma possível quebra, que poderia provocar contágio e produzir insegurança em todo o sistema.
Iniciativas intervencionistas como as adotadas pelo governo de Dilma Rousseff devem prever os problemas decorrentes das soluções que são implantadas para não criar outros problemas e ainda maiores do que aqueles que pretendeu resolver.
Em economia, essa situação de o tratamento matar o paciente não é rara e leva a imaginar que estamos nos aproximando de mais um momento de consolidação do sistema bancário. Certamente, isso exigiria um novo Proer, dessa vez formulado e administrado por seus mais severos críticos.
Medidas anticíclicas são próprias do papel do Estado indutor, mas requerem planejamento e avaliações mais profundas, desprovidas dos imediatismos inerentes às circunstâncias emergenciais. Com facilidade confundem-se com benesses, favores e cartórios que mascaram suas verdadeiras e meritórias intenções.
Ironias à parte, esse governo caminha no sentido da concentração bancária, o maior inimigo da redução de spreads e dos juros.
*Professor da Faculdade de Economia e Administração
da Universidade de São Paulo e
presidente do Instituto Fractal de pesquisa de mercado

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