MEDIDAS ANUNCIADAS HOJE NÃO FORMAM UMA POLÍTICA PÚBLICA
Veículo: Agencia Estado , AE Broadcast - Data: 3/Abr/2012 18:18
Por Celso Grisi*

Para montar uma política com esse propósito seria necessário, antes de mais nada, eleger o conjunto dos setores considerados estratégicos para a construção de um plano de desenvolvimento nacional. Esse plano não existe e, pior, entre os formuladores de políticas econômicas, o hábito do planejamento desapareceu. As medidas econômicas de hoje apenas respondem aos gritos e apelos dos atores sociais mais relevantes ao contexto econômico e político do momento.
As desonerações alcançam agora 15 setores da economia brasileira e implicam uma renúncia aos cofres públicos em torno de R$ 35 bilhões em favor da atividade empresarial. Virão ainda novos cortes no pagamento do Imposto sobre Produtos Industrializados. Para este ano já se fala em desonerações de R$ 4,48 bilhões pela Receita Federal. Ademais, aparecem no horizonte outras linhas de financiamentos a ser suportadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com taxas de juros privilegiadas para favorecer, sobretudo, as pequenas e médias empresas. As regras de atuação dos fundos de
desenvolvimento regional também deverão impulsionar investimentos em infraestrutura, com a interveniência do Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, a partir de empréstimos subsidiados pelo Tesouro Nacional.
O objetivo, segundo as autoridades, é a preservação do emprego e dos direitos dos trabalhadores no país, com inclusão de novos consumidores ao mercado nacional. Nesse contexto, novas restrições às importações devem aparecer no ambiente brasileiro. A opção é clara por redução tributária e desonerações tributárias das folhas de pagamento.
Eis como estamos caminhando pelas trilhas do casuísmo econômico. Ora as medidas macroprudenciais, por inoportunas e exageradas, lançam o mercado interno à retração; e, agora, pela imprevidência e pelo medo, lançarão a economia em direção ao protecionismo, ao câmbio cada vez menos flutuante e ao recrudescimento inflacionário. Tudo pelo crescimento e pelo emprego, como se "sacos de bondades" fossem além dos afagos aos empresários e ultrapassassem a generosidade imprudente que se faz aos trabalhadores.
As medidas omitiram mais uma vez a política de educação e cultura do trabalhador. Omitiram a integração dessas políticas com a política tecnológica.
Seria bom recuperar alguns conceitos essenciais. A política fiscal necessariamente deveria incumbir-se da ampliação do superávit primário, aumentando e tornando mais robustos os fundamentos de nossa economia. A política monetária deveria abraçar-se ao compromisso de reconduzir a inflação para o centro da meta e o câmbio não deveria prestar-se a manipulações, em bandas, fixadas tacitamente, por quem despreza o livre comércio. A política cambial, quando integrada à industrial, responde pela modernização do parque produtivo e,por essa via, pelos ganhos de produtividade de nosso sistema econômico.
* É diretor-presidente da consultoria Fractal e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
* É diretor-presidente da consultoria Fractal e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário