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terça-feira, 10 de abril de 2012

Sistema bancário

LIÇÕES QUE CHEGAM DA CHINA AO NOSSO SISTEMA BANCÁRIO
Veículo: AE Broadcast - Data: 9/Abr/2012 17:20
por Celso Grisi*
A concentração torna os sistemas bancários menos eficientes. A eficiência dos sistemas bancários pode ser medida segundo variadas dimensões, todas necessariamente atreladas aos objetivos fixados pelos países. Mas, qualquer que seja a situação dos países, devem ser respeitadas as funções básicas do sistema bancário de promover a circulação da riqueza nacional e produzir maneiras alternativas para a formação de poupanças individual e coletiva.
Afastar-se dessas duas funções ou cobrar, por elas, custos elevados, compromete a vitalidade de todo o sistema econômico e obstrui o crescimento das atividades empresariais e dos cidadãos.
Não foi por outra razão que a China, na semana passada, anunciou sua intenção de acabar com o monopólio de seus bancos estatais, ampliando, de forma agressiva, a cota para investimentos estrangeiros no mercado de capitais do país. O premiê chinês Wen Jiabao veio
a público para afirmar que os bancos em seu país ganhavam dinheiro muito facilmente e que era necessário quebrar o monopólio estatal no setor para que as empresas privadas tivessem um acesso mais efetivo ao crédito.
As empresas crescem a partir dos investimentos em capital fixo e dos apoios emprestados ao seu capital de giro, necessários às atividades de compras, de produção, estocagem e de financiamento às vendas. Se esse dinheiro não chega às mãos dos que operam, produzem e comercializam, as unidades econômicas ficam imobilizadas, deixando de empregar e de expandir o PIB nacional. Daí porque bancos precisam ser os verdadeiros elos entre os setores
da economia e de todos os seus agentes, de maneira a garantir a circulação da riqueza e de seu crescimento ao longo do tempo. E distribuir o capital implica investir em agências físicas e demais elementos de transações eletrônicas. Significa, em última análise, dar acesso, de forma capilar e intensiva, aos serviços bancários como um todo; e distribuir de maneira eficiente o crédito à economia e aos seus agentes.
O dinheiro necessariamente precisa chegar em quantidade, custos e demais condições compatíveis com as realidades locais, possibilitando, pelas análises anteriores às aprovações, a ampliação da capacidade de pagamento dos tomadores e o respaldo de garantias líquidas e suficientes. Isso pode dar a ideia da dificuldade para alcançar a eficiência bancária. A gestão de bancos deve ser preciosa, marcada pela excelência, e acima de tudo, estimulada pela
competitividade e pelos lucros decorrentes dos volumes e das quantidades de operações.
Monopólios levam à redução das inovações, assentam-se sobre as vantagens das economias de escala e repassam o custo de suas ineficiências ao preços de seus compradores.
Administram a demanda e provocam o encarecimento dos produtos, penalizando o sistema de preços da economia local, reduzindo o poder aquisitivo dos consumidores, inibindo o aparecimento de novos atores no cenário concorrencial e subtraindo a função social da atividade empresarial. Um pequeno número de grandes bancos, na opinião do líder chinês, conduz a oferta de crédito a situações de restrição excessivamente perversa para a economia e para a sociedade em geral. A quebra desse monopólio e a ampliação do número de players parecem agora essenciais ao governo chinês para aumentar a eficiência de todo o sistema econômico do país.
Hoje quatro bancos estatais chineses guardam posições assombrosamente dominantes em setores essenciais da economia do país: agricultura, construção, comércio e indústria. O projeto do governo, por meio da Comissão Regulatória de Valores Mobiliários, é de mais que triplicar o valor que bancos estrangeiros poderão investir no mercado financeiro do país, reduzindo a concentração e, de certa forma, privatizando um setor antes considerado intocável. Uma oportunidade e tanto para os grandes bancos brasileiros fortalecerem suas musculaturas e que não pode ser perdida para os que pensam em um dia tornarem-se players internacionais de expressão global.
São lições importantes que os chineses nos trazem, fazendo pensar se, no Brasil, também já não é hora de reverter a tendência de concentração no setor financeiro por meio de novos entrantes internacionais, estimulando-os à busca de novos mercados pelo mundo e liberando os pequenos espaços dos segmentos menos atrativos para o crescimento dos bancos de menor porte em nosso país.

*Professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e presidente do Instituto Fractal de pesquisa de mercado.

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