Aumento de rating brasileiro traz poucos sinais de retorno do investidor externo à bolsa
Veículo: Portal Infomoney - Data: 06 de abril de 2011 • 06h21Por: Tatiane Monteiro Bortolozi
SÃO PAULO - Em março, o saldo do investidor estrangeiro na Bovespa ficou negativo em R$ 1,771 bilhão, em resposta ao ingresso de R$ 42,977 bilhões e da saída de R$ 44,748 bilhões. O movimento foi o pior registrado desde janeiro de 2010, quando o fluxo estrangeiro recuou R$ 2,1 bilhões. A elevação do rating brasileiro pela Fitch trouxe poucas diferenças em relação ao retorno deste público à bolsa brasileira. Apesar da diminuição do risco, analistas ainda consideram que o movimento externo se deve à atratividade de países desenvolvidos.
"A saída dos estrangeiros nos últimos meses me pareceu apenas moderada e muito derivada da melhora de percepção da bolsa americana", diz o economista da InvestPort, Dany Rappaport. Ele diz acreditar que os volumes externos que deixaram a bolsa "com certeza" serão recuperados. No entanto, mais por conta da parada do ciclo de alta dos juros do Banco Central do que pela nova nota da agência internacional.
Ainda assim, Rappaport destaca que "a melhora gradual da percepção de risco do Brasil é fundamental para a atratividade do País. Quer seja porque os investidores notam as empresas brasileiras como de menor risco, quer seja porque as empresas brasileiras tendem a se financiar de maneira mais barata conforme o rating melhora".
Nota será decisiva caso situação externa piore
A chefe da divisão de fortunas da Mirae Asset Securities, Luciana Pazos, compartilha do mesmo raciocínio do economista da InvestPort. Embora considere que a notícia não deixa de ser positiva, Luciana destaca que o principal motivo para a saída do investidor estrangeiro foi a visualização da retomada econômica em países desenvolvidos, com a manutenção de baixas taxas de juros. Enquanto isso, a economia dos emergentes, como Brasil e China, segue uma política monetária de contenção e elevação de juros, com crescimento econômico menor.
Luciana considera que a nota da Fitch pode fazer a diferença caso a delicada situação externa, com os reflexos do terremoto no Japão, as tensões no Oriente Médio e norte da África e a crise política em Portugal, dure mais que o esperado. Este movimento pressionaria ainda mais as cotações do petróleo, elevando as expectativas de inflação e das taxas de juros dos países desenvolvidos e, ao mesmo tempo, abrindo espaço para que os investidores voltassem a olhar para os emergentes.
"A nota faz pouca diferença em um mundo de incertezas como o vivido neste momento. Os conflitos externos escurecem a notícia", conclui a chefe da divisão de fortunas da Mirae.
O mais importante o Brasil já tinha...
A economista da Rosenberg Associados, Thais Zara, considera que a elevação da nota brasileira pouco tem a ver com o fluxo estrangeiro e sim com a percepção da importância da política macroeconômica brasileira e do controle da dívida pública. Em comunicado, a Fitch elogiou as políticas responsáveis adotadas pelo governo brasileiro, além da potencial de crescimento econômico entre 4% e 5% nos próximos anos.
Thais explica que o fator mais decisivo para a entrada do fluxo externo veio em 2008, quando recebemos o Investment Grade, uma exigência de diversos fundos de investimento.
Vale lembrar que a agência ainda chamou a atenção para a tranquila transição entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. "Do ponto de vista político, ficou claro que Dilma assumiu o controle de forma independente, dando continuidade à política macroeconômica, mas sem estar comprometida demais com o populismo. Ela se posicionou como técnica, o que agradou o mercado e investidores", diz o professor da Fipecapi, Celso Grisi.
Grisi considera que a liquidez do país continua "imensa" e a enorme confiança no país foi simplesmente "endossada" pela agência. Ele lembra que embora o investidor externo esteja deixando a renda variável, continua a investir no País, então a percepção de risco pouco mudou.
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