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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Inflação x juros

IPCA: guerra de expectativas

Banco Central e mercado financeiro observam aumentos de preços, mas têm evidentes divergências em relação à trajetória da inflação. É uma das novidades da gestão Dilma.
Rejane Tamoto - 24/4/2011 - 20h27
A recente escalada dos preços de produtos e serviços não dá trégua: disso todos os agentes econômicos sabem. Não há concordância, no entanto, em relação às perspectivas para os preços nos próximos meses. Nas últimas semanas, ficaram ainda mais claras as divergências entre o Banco Central (BC) e o mercado financeiro nas estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano. Enquanto o BC trabalha com previsão de 5,6% para 2011, os analistas já apostam em alta de 6,29%, conforme o resultado do levantamento Focus mais recente.
Para diminuir o consumo e tentar conter os preços, o governo alterou depósito compulsório e elevou impostos. Na última quarta-feira, mais uma medida: o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica (Selic) em 0,25 ponto percentual.
A expectativa do governo é de que as medidas tenham efeito no segundo semestre e o IPCA feche o ano acima do centro da meta de 4,5%, mas dentro da tolerância, de dois pontos acima ou abaixo do centro. Aposta que, aparentemente, não encontra respaldo entre os analistas de bancos e corretoras. Esse agentes continuam vendo inflação bem mais alta.
Nova gestão
Monalisa Lins/e-SIM
O mercado parece não acreditar que as doses homeopáticas desses diferentes "remédios" do governo tenham resultado. Essa discordância de expectativas entre o BC e o mercado financeiro não ocorreu enquanto Henrique Meirelles comandou o BC. O embate, na opinião do conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), Cláudio Gonçalves, é prejudicial por recriar a expectativa futura de inflação, que havia sido extinta depois do início do Plano Real.
Celso Grisi, do Instituto Fractal
Na avaliação de Gonçalves, esse é um período em que os analistas se acomodam ao novo presidente do BC, Alexandre Tombini, e à gestão da presidente Dilma Rousseff. "O mercado está arisco porque está aprendendo a ler o sinais de Tombini. O Meirelles era pragmático e sucinto. O novo presidente não é tão claro nos discursos à imprensa e isso se reflete nas expectativas", afirma o conselheiro do Corecon-SP.
Segundo ele, há ainda diferenças nas falas de Dilma, de Tombini e do ministro da fazenda, Guido Mantega. "O mercado precisa entender como as novas cabeças pensam a política monetária", afirmou.
Gonçalves diz ainda que a inflação está sob controle e que deve arrefecer no segundo semestre, como prevê o BC. A estimativa do governo é que o pico da inflação em 12 meses ocorra no terceiro trimestre, chegando a 6,6%, recuando depois até chegar aos 5,6% estimados no último relatório trimestral de inflação. "A pressão inflacionária é momentânea e causada pelo aumento das commodities desde o ano passado", observa.
Tolerância
O economista e diretor-presidente do Instituto de Pesquisa Fractal, Celso Grisi, afirma que o mercado financeiro está enxergando uma certa tolerância do BC com os movimentos de preços. "O Banco Central está muito obediente ao gradualismo do ministro Mantega", avalia o economista. "É preciso estancar as expectativas inflacionárias e indexatórias, contingenciar o crédito e recuperar a credibilidade internacional", acrescenta.
Ele diz que as medidas graduais do governo não estão surtindo efeito e que o BC tem de procurar colocar a inflação no centro da meta ainda neste ano. "O governo tem tomado medidas com prudência para não atrapalhar o ritmo de crescimento da economia e chegou ao limite. É preciso atitude mais forte porque o mês de abril foi marcado pela fuga de capitais, o que mostra a perda de confiança do investidor internacional no Brasil." Segundo Grisi, os aumentos da Selic são inevitáveis nesse cenário, no qual o consumo é impulsionado pelo alto nível de emprego e por reajustes salariais.
Política fiscal
Na opinião do economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emilio Alfieri, tanto o aumento da Selic quanto o de tributos como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), vão pesar no bolso do consumidor e desaquecer o varejo.
"Para o governo é melhor usar o IOF porque ele arrecada recursos que podem ir para o superávit primário. É uma tentativa de segurar a inflação com política fiscal e, se o governo conseguir, será inédito no País. O setor financeiro reage porque, assim, tem de colaborar com o ajuste", destaca Alfieri. "Como o Banco Central está hoje no meio de um ajuste, acredito que o governo use mais o IOF do que a Selic para combater a inflação, porque o imposto não pressiona o câmbio", completa o economista.

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