Após alta do rating, quais são os grandes desafios macroeconômicos do Brasil?
Veículo: Infomoney - Data: 04/04/11 - 20h36Por: Natália Wagner Rodrigues
SÃO PAULO - A Fitch voltou a elevar o rating do Brasil, agora em "BBB" de acordo com sua metodologia, e o país cada vez mais deixa para trás seu passado de mau credor aos olhos dos investidores. É nítido que o Brasil de hoje é mais sólido economicamente do que o Brasil de alguns anos atrás, ainda permanecem alguns gargalos e alguns pontos que precisam ser melhorados.
O risco de se investir no Brasil é menor, porém com isso vem também outras necessidades. O investidor também quer ver algumas variáveis apresentando melhoras e para Robson Gonçalves, professor do FGV Management e especialista em macroeconomia, o principal ponto nessa lista é a inflação, questão que para o professor da Fipecapi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis Atuariais e Financeiras), Celso Grisi, não será de fácil resolução.
A grande vilã
De acordo com Gonçalves, a inflação deve ultrapassar a meta do Banco Central, o que seria um evento extremamente ruim para a economia. Segundo o professor, seria a primeira vez em que a inflação ficaria acima do limite superior da meta. Isso seria um sinal, avalia, de que há um superaquecimento na economia, ou seja, a demanda crescendo mais do que a oferta.
A inflação é uma grande vilã, pois consome o poder de compra do consumidor. Além disso, o consumidor também perde sua base de comparação. Corrigir esse problema, afirma Gonçalves, é um importante passo para o Brasil atingir uma maior estabilidade macroeconômica no futuro.
Segundo Grisi, esse controle é essencial para defender a camada mais pobre da população. "Temos que controlar preços, se não todos os ganhos salariais conquistados pelos mais pobres serão comidos pela inflação", explica.
Inflação reflete falta de infraestrutura
A questão da alta dos preços ganha contornos ainda mais preocupantes quando se analisa a questão da poupança no País. Gonçalves explica que o Brasil ainda é muito atrasado em questões como geração de energia, transportes, infraestrutura e, sobretudo - um ponto esquecido por muitos - mão-de-obra qualificada.
"Se nós tivéssemos capacidade produtiva não teria inflação, mas não temos investimento que faça prover essa infraestrutra que precisamos. Sem isso não podemos ter um horizonte sustentável no futuro", avalia. O professor ainda acrescenta que a inflação é o sintoma desse desequilíbrio.
Compartilhando da mesma visão econômica, Luciana Pazos, chefe da divisão de fortunas da Mirae Asset Securities, afirma que o avanço do Brasil esbarra na questão da infraestrutura, um gargalo a ser vencido. "É preciso melhorar a infraestrutura para que o crescimento econômico deixe de significar a pressão da demanda, gerando inflação", destaca.
Crédito
Dany Rappaport, economista da Investor, avalia que o BC terá a missão de controlar o crédito, que segue em crescimento mesmo com juros altos e compulsórios acima do patamar internacional. "Esta situação ainda é decorrência de uma população que viveu décadas sem acesso ao crédito", pondera o economista.
Grisi também cita o crédito como um desafio, pois se não for controlado, pode pressionar ainda mais a inflação.
Câmbio
Outro desafio ao Governo é o câmbio. Conter a sobrevalorização do real está entre os principais objetivos para esse ano, como o próprio ministro da Fazendo, Guido Mantega, afirmou. Os professores da FGV e da Fipecapi ressaltam que há uma outra vertente de análise para a elevação do rating. Como a percepção de risco diminuiu, o incentivo para a entrada de capital é maior.
"O investidor está tomando crédito nos EUA, que tem medidas muito frouxas para isso, e trazendo para o Brasil. Isso pressiona o dólar e cria uma série de problemas para a economia", ressalta Gonçalves.
Um desses problemas decorrentes do câmbio recai sobre os produtores brasileiros, que se veem encurralados. O aumento das importações mais baratas eleva a competição e dificulta a produção de alguns setores críticos na economia. Gonçalves também cita dificuldades na outra ponta, já que os exportadores também perdem, uma vez que recebem menos reais pelos produtos vendidos. Em relação às exportações, Grisi destaca até mesmo a perda sobre as vendas de produtos agrícolas, o que pesa muito para o Brasil.
"Estamos importando de maneira descabida, matando o exportador e a indústria nacional. Assim, tem que haver mais medidas por parte do Governo, com uma política industrial que compense esse dólar desvalorizado", avaliou Grisi.
Confiança no Governo
Por fim, Gonçalves explica que essa elevação no rating do País reflete uma questão de confiança. Segundo o professor, há oito anos foi feito um ajuste fiscal "de acordo com figurino" e os frutos foram colhidos pelo presidente [Lula] mais tarde. Assim, quando um Governo começa a agir de maneira incisiva, a confiança nele aumenta.
Para Gonçalves, o recado que a Fitch quis mandar é que há uma grande confiança no governo Dilma, ou seja, a expectativa é que ela consiga "arrumar a casa", avançando nesses pontos que ainda causam pressão para a economia brasileira. "A agência internacional está dizendo: Nós confiamos em você", brincou.
Contudo, as diretrizes acerca de como será o investimento produtivo ainda estão no escuro. Não há clareza na articulação desses investimentos, mas sem dúvida já é um grande passo, como avalia o professor.
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