É a vez do Brasil
Com o Rio e o real, o pré-sal e o futebol, cada vez mais o mundo presta atenção na linha abaixo do Equador.
Mas, para fazer a festa, é preciso construir o salão.
Patrícia Büll
Odólar se manteve na casa próxima de R$ 1,70 e encerrou a sexta-feira valendo R$ 1,708. A valorização do real tem tirado o sono de exportadores brasileiros e, se depender do ingresso de investimentos estrangeiro no País, a moeda só tende a ficar mais forte. A descoberta de petróleo na camada do pré-sal, a realização da Copa do Mundo em 2014, a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016 e, agora, a elevação do Brasil a investment grade pela agência Moody's são alguns dos eventos que colocam o Brasil como destino seguro para investimentos.
Daqui até o final do ano, espera-se um ingresso entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões. No ano passado, segundo dados do Banco Central, o País recebeu pouco mais de US$ 45 bilhões em investimentos estrangeiros diretos (IED).
"Os investimento esperados em razão da Copa e da Olimpíada são os que interessam ao País, pois vão ajudar a sanar gargalos crônicos de infraestrutura, barateando também o custo Brasil, que é o preço de se produzir no País, beneficiando também outros setores", afirma Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).
Opinião semelhante tem o advogado Ivandro Sanchez, sócio do Machado, Meyer, Sendacz e Opice, ao confirmar que o Brasil vai conseguir resolver uma série de problemas que já deveria ter solucionado, como melhoria e ampliação dos aeroportos, mas que, por conta da burocracia excessiva, não conseguiu.
"Agora, em função das obrigações que tem junto aos organizadores oficiais dos eventos, terá que realizar as
obras de qualquer forma", diz Sanchez, que é responsável pela divisão de esportes e entretenimento do escritório. Segundo o advogado, os exemplos recentes de eventos esportivos, na China em 2008 e da África do Sul em 2010, mostram que as exigências se fazem necessárias.
Infraestruturas em geral e específicas – como a construção de estádios de futebol e de praças esportivas para a Copa e para a Olimpíada, respectivamente –, contrato de patrocínio dos eventos e a exploração do turismo são os quatro itens que o advogado aponta como de elevado nível para possíveis investimentos. "O desafio é tornar essas praças atraentes também no pós-evento, pois é isso que vai conquistar investidores privados", afirma Sanchez. Como exemplo, ele cita que um estádio de futebol precisa ser um projeto de praça de evento, que possa receber, além dos jogos, outras atrações. "Uma equipe joga em média 40 partidas no próprio estádio em um ano, o que é muito pouco para um investidor privado. Mas, se o clube tiver um projeto para tornar o estádio um espaço de entretenimento, o poder de atração será muito maior", explica.
Barreiras – Para o professor de finanças das Faculdades Rio Branco, Luiz Antonio Fernandes da Silva, outro desafio é reduzir os problemas que elevam demais o custo Brasil, como burocracia excessiva, legislação trabalhista arcaica e falta de marcos regulatórios para alguns setores-chaves.
Na opinião dele, o Brasil precisa urgentemente realizar as reformas trabalhistas e políticas para se tornar uma nação ainda mais eficiente. "É verdade que mesmo sem essas reformas os investimentos para os eventos esportivos virão, pois há muitas empresas estrangeiras e nacionais, interessadas na visibilidade que eles trarão. Mas, no longo prazo, essas reformas são necessárias para que outros setores econômicos sejam beneficiados com investimentos", diz. Para Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Fractal e professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), o País criou fundamentos econômicos sólidos que o tornaram "a bola da vez". "Além disso, tem um moeda forte, líquida e estável que alçou o País à posição de refúgio atraente para investidores estrangeiros, que procuram retorno certo no curto prazo e estabilidade no longo", afirma Grisi. Apesar do otimismo, ele é de opinião de que duas reformas são necessárias e urgentes para que o Brasil consiga investimentos para outros setores: a tributária, para que deixe de onerar salários e produtos, e passe a taxar riquezas, e a política, pois mostraria de forma clara o clima institucional.