Nova Fusão Não Passa Desapercebida pelo Mercado
"Rendimento embala o frangoBanco Concórdia, das famílias Furlan e Fontana, é negociado com a maior instituição de câmbio para turismoMárcio Kroehn.
A terça-feira 29 de setembro amanheceu movimentada no 19º andar do número 2.092 da avenida Faria Lima, bairro de Pinheiros, em São Paulo. Antes do meio-dia, os diretores do Banco Central olhavam com atenção as instalações do Banco Rendimento. O banco comercial fundado em 1992 para servir às médias empresas estava prestes a embalar um grande salto. Semelhante ao que dera no início da década, ao adquirir a corretora Cotação para aumentar sua participação na compra e venda de moedas estrangeiras para turismo e nas remessas estrangeiras para o País. A aquisição foi tão bemsucedida que a instituição se tornou sinônimo de operações de câmbio. O pulo, desta vez, é uma volta às origens. O Rendimento quer aumentar sua carteira de crédito e tratou de abocanhar o Banco Concórdia, das famílias Furlan e Fontana.
O Concórdia está longe de ser um bancão que vai resolver a vida do seu novo dono. Com ativos de pouco mais de R$ 123 milhões, a instituição financeira fazia parte do conglomerado Sadia. Porém, na negociação com a Perdigão para a criação da Brasil Foods (BRF), tanto o banco como a corretora de valores ficaram com seus antigos fundadores, e Luiz Fernando Furlan, exministro do Desenvolvimento, assumiu as rédeas. Era o preço a ser pago pela agressividade nas operações de derivativos, que causaram prejuízos bilionários para a Sadia no ano passado. Um duro golpe para o Banco Concórdia, que havia recebido a autorização do Banco Central no primeiro semestre de 2008, com planos de ser a financiadora das empresas que tinham negócio com a indústria de alimentos. "O Concórdia estava traçando o mesmo caminho do Banco Votorantim, da família Ermírio de Moraes, que financiava toda a produção", diz Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto Fractal.
É justamente esse conhecimento da cadeia produtiva de alimentos que chamou a atenção do Rendimento. "Passada a crise, queríamos crescer em crédito. Essa foi uma oportunidade para acelerar", disse o diretor-superintendente, Abramo Douek, à DINHEIRO na quarta-feira 30. No agronegócio, uma atenção especial será dada às letras de crédito agrícolas (LCA), que chegaram a R$ 9 bilhões sob custódia neste ano. Toda essa oferta de dinheiro, porém, terá que ser batalhada. Nenhum acordo foi fechado com a BRF para os negócios serem feitos com exclusividade no Concórdia. "Não há obrigação nem proibição. Temos que trabalhar para conquistá-los", afirma Douek. Mas faz todo o sentido, nesse período de fusão entre a Sadia e a Perdigão, utilizar a instituição financeira que já esteve dentro de casa. "O Rendimento vai explorar todas as pequenas e médias empresas que estavam em contato direto com a Sadia", analisa Luis Santacreu, analista da Austin Rating.
O Banco Rendimento adquiriu uma participação majoritária do banco que a holding comandada por Furlan tinha posto à venda. Luiz Gotardo Furlan e Caio Villares, filho e genro do ex-ministro, respectivamente, mantiveram uma participação minoritária na instituição financeira. Ainda faltam alguns detalhes para acertar o valor final da transação. O certo é que o negócio não será feito pela troca de ações, como chegou a ser proposto. A corretora e a gestora de recursos não entraram na negociação e continuam abertas a novas propostas.
O que se comenta abertamente no mercado é que a aquisição do Concórdia seria a porta de entrada de um parceiro internacional no Rendimento. Poderá ser um fundo de private equity ou a parceria com algum banco estrangeiro sedento por entrar no País. E por que essa compra era necessária? "O Concórdia traz a autorização para ser banco múltiplo", diz Grisi. Com o carimbo de banco comercial, o Rendimento podia fazer operações simples de depósito à vista ou empréstimos de curto prazo. Agora, após embalar o frango, o símbolo da história da Sadia, ele pode ser a porta de entrada para todos os tipos de serviços bancários. " (Isto É Dinheiro de 01/10/2009).
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