Agora o problema se cronificou
Há quem diga que câmbio alto não desindustrializa o país e que estimula a competitividade de suas empresas. Vamos ver?
Supondo que precise receber por uma unidade de produto brasileiro R$ 2,60, dado que o custo de produção e comercialização (CIF NY) desse produto seja R$ 2,00.Em condições normais bastaria vender o produto a US$ 1,00 e a margem seria de 30%.
Como o Real está muito valorizado (US$ 1,00 = R$ 1,77), precisarei vender essa unidade de produto a US$ 1,47, tornando o produto brasileiro 47% mais caro em dólares, para preservar a margem. Saímos do mercado.
Na China, vamos supor que o mesmo produto, ofertado por US$ 1,00 (CIF NY) deixasse lucro em Yuan de 30%.
Com um câmbio justo, de yuan 4,2 para cada US$1,00, o produtor Chinês estaria ganhando Yuan 1,26, respeitada a margem de 30%.Se de fato, estiver recebendo pelo produto vendido Yuan 7,00 por dólar, seu lucro será então de Yuan 1,26 + Yuan 2,80 = Yuan 4,06; ou seja seu lucro será de 58% sobre o faturamento.
O exportador chinês pode agora abrir mão do excesso de lucro em yuans e baixar seu preço em dólar para US$ 0,60 por unidade do produto equivalente exportada da China, mantendo seu lucro inicial de Yuan 1,26.
A diferença, em dólar, proveniente do efeito conjunto da sobrevalorização do real e da subvalorização de Yuan é assombrosa: de 1,47 para 0,60; ou seja, o produto brasileiro custa, aproximadamente, 2,5 vezes a mais.
Vamos pensar agora nas importações chinesas e na produção nacional, competindo pelo mercado interno brasileiro.
Uma unidade de produto nacional está sendo vendida, por uma multinacional francesa, no mercado interno, a R$ 2,60, deixando lucro de 30%; ou seja, R$ 0,78.
Sua subsidiária chinesa exporta para o Brasil uma unidade de produto similar, com a mesma margem (30%) US$ 1,00, tendo imaginado receber, quando de sua instalação na China, Yuan 4,20 por esse dólar, e lucrar os correspondentes Yuan 1,26.
Como o governo chinês resolveu estimular as exportações, desvalorizou sua moeda, que hoje está cotada a Yuan 7,00 por dólar. Dessa forma seu lucro atingiu em moeda chinesa 1,26 + 2,80 = 4,06. Querendo ampliar suas vendas resolveu abrir mão do excesso de lucro promovido pela desvalorização cambial. Para preservar o ganho projetado de Yuan 1,26, resolveu reduzir seu preço em dólares a US$ 0,60.
No Brasil, para ser competitiva, a mesma multinacional deveria vender seu produto ao distribuidor-importador nacional a U$ 0,60 x R$ 1,77 = R$ 1,06.
Mesmo com o dólar a R$ 2,60, como quer o ministro Mantega, a multinacional francesa sediada no Brasil não seria competitiva em relação à subsidiária chinesa, pois a subvalorização do Yuan em relação ao dólar impede a indústria brasileira de competir: US$ 0,60 x R$2,60 = R$ 1,56.
Faltariam ainda R$ 2,60 – R$ 1,56 = R$1,04; ou seja, na cotação do ministro faltaria ainda US$ 0,40.
Tenho certeza que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, acadêmico de grande valor, e o ministro Mantega, com formação econômica assemelhada, estão preocupados com os efeitos, no longo prazo. E há que os critique sobre isso . Mas esse é assunto para o próximo post.
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