Flutuações
limitadas
Em períodos de
grandes flutuações tudo fica mais difícil para os formuladores de política
econômica. Prever supõe a descoberta da
direção dos fatos e o diagnóstico das intensidades que assumirão, nas muitas direções
que vierem a tomar.A crise das dívidas europeias assumiu proporções assustadoras que até ontem se mantinham sem direções definidas. Agora, com o G-20, começam a se dissipar. Os líderes europeus comprometeram-se com o encaminhamento de soluções, deixando antever um futuro recessivo, mas sem rompimentos do sistema financeiro. Tanto melhor.
O fato de ser melhor, entretanto, não
afasta os grandes dilemas econômicos da atualidade. O câmbio é um deles. A
inflação é outro, até mais importante. No câmbio, o regime flutuante segue como
um paradigma que não se quer negar, na tentativa de preservar os princípios dos
investidores internacionais. Entretanto, a Suíça impôs, no início do mês
passado, à moeda local, o piso de 1,20
francos suíços por euro. O argumento básico é o de que as exportações
representam algo em torno da metade de seu PIB e que a valorização excessiva da
moeda prejudica a competitividade da empresa local, prejudicando o crescimento
econômico.
No Brasil, de forma velada, o regime
cambial livre está sendo substituído por um sistema mascarado de banda. O
mercado acompanhou os momentos de maior apreciação e observou que o Banco
Central do Brasil admitiu, com certa passividade, a taxa de câmbio alcançar R$1,50 por dólar.
Noutro momento, o mercado se deu conta de que acima dos R$ 1,90, o mesmo Banco
Central passou a evitar que a desvalorização da moeda se aprofundasse.
Estabeleceu-se entre os agentes econômicos uma espécie de consenso de que há um
sistema de banda, ainda que bastante amplo,
com piso inferior fixado em R$ 1,50 e superior em R$ 1,90.
As razões do Banco Central brasileiro foram
entendidas e aceitas como muito semelhantes à s razões suíças. O mercado também
entendeu que emprego e inflação são pontos cruciais nessa decisão e resignou-se
diante do intervencionismo estatal. Esse último foi compreendido como instrumento
de combate às possíveis recessões, e que a intervenção será a tônica desse
governo.
Se
alguém ainda duvidava, as medidas relativas ao IOF em operações cambiais, ao
IPI para a importação de veículos e, finalmente, às relativas a redução da taxa
Selic sinalizam os novos rumos de nossa economia.
Temo por isso tudo. Vejo muito estado na
vida econômica e pouco estado na vida social.
Começo a ver precipitações nas decisões. Ora
são tímidas, veladas e retardadas, como no caso do câmbio; ora chegam de afogadilho, são precipitas e desnecessariamente
precoces, como no caso da redução da Selic.
Decisões a céu aberto e justificadas para
toda a sociedade, como as suíças, respeitam mais claramente as regras do livre
comércio. Decisões de redução dos juros básicos, antes mesmo que a recessão
apareça de forma nítida e que, com nitidez similar, a inflação inverta sua direção
para o centro da meta, podem causar estragos
de difícil reversão no seio de nossa vida econômica, política e social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário