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terça-feira, 18 de outubro de 2011

É velha a crítica sobre os cartórios econômicos

Economistas criticam atuação do BNDES em grandes obras
Veículo: DCI - Data: 18/10/11
Jornalista: Gustavo Machado - AE
São Paulo - O presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, presente em evento da Confederação Nacional da Indústria, afirmou ontem que novos aportes financeiros na área de infraestrutura podem acontecer. Coutinho citou particularmente dois projetos bilionários. A usina hidroelétrica Belo Monte e a fábrica de telas digitais e semicondutores da Foxconn. "Nós temos interesse em examinar seriamente [o empreendimento], pois é uma oportunidade relevante para a economia", comentou sobre a companhia chinesa. Já sobre a usina, Coutinho afirmou que "se necessário, complementaremos o empréstimo para ter tempo de fazer tudo direitinho". Dispêndios bilionários na indústria e em infraestrutura fazem do BNDES o maior fomentador brasileiro. Atualmente, o custo financeiro para o empréstimo, sob a óptica das empresas, é lucrativo. Descontada a inflação, os juros cobrados pelo órgão fomentador situam-se em terreno negativo de 1,31% ao ano. Os juros de apenas 6% ao ano, praticados pelo banco estatal, sugerem críticas por parte de economistas. André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, atenta para a contradição evidenciada pelos juros pagos pelo Tesouro Nacional e os recebidos pelo BNDES. "O Governo toma a 12% e empresta a 6%. O Brasil é muito curioso em relação a juros", afirma. Segundo o economista, o retorno financeiro brasileiro é suficiente para o investimento direto no País, sem a necessidade de dar subsídios para empresas estrangeiras. "O retorno em diversas atividades valem mais que os juros atuais de 12%. Caso o retorno não fosse atrativo, ninguém investiria em empresas, apenas no tesouro", explica André Perfeito. Ontem, Coutinho argumentou que o País segue firme e atraente para investimentos estrangeiros, mesmo em épocas de turbulência. "Os planos de investimento no Brasil estão firmes, estão mantidos. Acreditamos na capacidade da economia brasileira de sustentar o crescimento, apesar dos efeitos da crise internacional", diz o presidente. Na semana anterior, membros do governo brasileiro afirmaram à Reuters que o negócio com a chinesa Foxconn pode não se concretizar. Devido à falta de mão de obra qualificada e alta carga tributária, os investimentos de US$ 12 bilhões não seriam viáveis. O banco gerido por Coutinho poderia entrar como salvador de um negócio tido como a principal conquista de Dilma Rousseff em viagem à China. Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), comenta que os investimentos de US$ 12 bilhões são ilusórios quaisquer fossem as condições macroeconômicas brasileiras. "Eles investirão talvez US$ 1,2 bilhão. Não dá pra imaginar esses US$ 12 bilhões", comenta. André Perfeito questiona a possibilidade de investimento do BNDES na companhia chinesa. "Fico indignado com um empréstimo a uma fábrica que, no começo do ano, 15 se mataram por não conseguir mais trabalhar. Uma fábrica bilionária que pode se capitalizar internacionalmente", irrita-se. Fábio Pina, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, explica que o Brasil perde muito dinheiro com aplicações que, provavelmente, não seriam avalizadas em uma empresa privada. "Ninguém entende essa equação. Reservas de US$ 300 bilhões, juros de 12%, inflação de 7,3% e BNDES emprestando dinheiro a 6%. Somente com as reservas, sem considerar o câmbio, perdemos US$ 18 bilhões ao ano", afirma Pina. Segundo Pina, é incompreensível o tamanho dos desembolsos realizados pelo BNDES na atual conjuntura. "Emprestar mais de R$ 1 bilhão no longo prazo, está errado. É uma transferência de dinheiro público para o privado". O banco dispõe de travas para que determinadas parcelas do empréstimo sejam aprovadas apenas depois da fiscalização do empreendimento. No entanto, empresas conseguem reinvestir parte do empréstimo até que ele seja totalmente utilizado na obra discriminada no projeto. Segundo Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto Fractal, investimentos suntuosos em empresas multinacionais não poderiam ser atribuições da instituição fomentadora. "Os investimentos têm que ser muito relevantes do ponto de vista econômico e social. Valores como esses distorcem a ideia de um banco de desenvolvimento", diz. Fábio Pina reforça a crítica feita por Grisi. "O BNDES tem que mudar de nome. Ele não tem o aspecto de um banco para desenvolvimento econômico e social". Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, argumenta contra a legitimidade da instituição. "O subsídio concedido pelo BNDES, a diferença entre o que o Tesouro Nacional paga e o juro praticado pelo banco, configuram um custo para a sociedade". Segundo o ex-ministro, os aportes realizados teriam de ser aprovados pelo Tribunal de Contas da União e pela Câmara Legislativa, pois o dinheiro utilizado pertence à sociedade brasileira. "É para mostrá-lo de forma transparente", comenta o economista Maílson da Nóbrega.

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