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quinta-feira, 13 de maio de 2010

China: exportações em queda

Exportações chinesas ameaçadas
Jornal do Brasil - 11/05/2010 - Marta Nogueira
RIO - Com a contínua desvalorização do euro e a possível apreciação do yuan, os produtos europeus devem chegar mais baratos no mercado e competir com os chineses, segundo economistas. A forte política de exportação da China causou o aumento progressivo dos preços no país, que registrou a maior inflação anual dos últimos 18 meses em abril (2,8%). Analistas defendem a necessidade de valorização da moeda e do aumento da taxa de juros para conter um provável superaquecimento da economia. Tais medidas podem resultar em um deslocamento do comércio mundial, com mais competitividade e boas expectativas para os mercados emergentes, como o Brasil.
– O que a China vai fazer nem Deus sabe. O país ainda tem atitudes econômicas muito isoladas do resto do mundo e nunca se sabe o que esperar – ressalta o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Veloso.
O receio em relação à economia chinesa associado às incertezas sobre o pacote de emergência para o resgate da União Europeia levou à queda dos mercados terça-feira. A Bolsa de Xangai fechou em baixa de 1,9%, para 2.647 pontos. O mercado acionário chinês acumula a pior performance no ano (-19,2%) entre as bolsas asiáticas. O índice Nikkei da Bolsa de Tóquio fechou em queda de 1,14%, aos 10.411 pontos. Em Hong Kong, o índice Hang Seng caiu 1,37%, para 20.146 pontos, depois de ter a maior alta em cinco meses na véspera e Taiwan se desvalorizou 0,73%, a 7.608 pontos.
O ex-diretor de Política Monetária do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas lembra que a China registrou superávit comercial 79% menor no acumulado deste ano até abril, de US$ 16,1 bilhões. Segundo ele, já existe uma valorização lenta da moeda, que deve se intensificar nos próximos meses, como medida para combater a inflação.
– A taxa de câmbio chinesa é muito dosada. O governo deve começar valorizar a moeda de maneira mais acelerada – disse Carlos Thadeu.
A produção industrial da China cresceu 17,8% em abril em relação ao mesmo mês do ano passado, conforme dados divulgados terça-feira pelo governo. No acumulado do ano até abril, a alta foi de 19,1%. Professor da FEA/USP, Celso Grisi acredita que mesmo com o desaquecimento forçado da economia chinesa, a produção deve continuar alta.
– Se a valorização da divisa e o aumento da taxa de juros se concretizarem, a produção deve se voltar para o abastecimento interno, com preços mais baratos para a população – avalia Grisi.
O professor da FGV Management Robson Gonçalves destaca que a China não pode ser avaliada da mesma forma que os Estados Unidos, Europa ou até mesmo o Brasil. Para ele, o país ainda tem muito traços de um regime socialista e não é possível afirmar, com certeza, quais serão os próximos passos.
– É só recordar que ao fim dos anos 90, para diminuir as importações, a China mandou de volta carregamentos de soja enviados pelo Brasil – exemplifica Gonçalves.
Para o professor, as taxas e os compulsórios bancários devem ser elevados. “Tudo deve acontecer sem consequências desastrosas na economia mundial”.
O analista econômico da Mercatto Investimentos, Gabriel Goulart, declarou que qualquer medida tomada pela China em relação ao comércio exterior mexe com todo o mundo. “A China é um grande player do comércio exterior. As incertezas só vão passar depois que o governo explicar o que pretende fazer”.
A crise europeia em torno da dívida pública acentuada de países como Grécia, Portugal e Espanha criou temor de contágio pela Europa, ameaçando a credibilidade da moeda única. Para tranquilizar os mercados, a UE anunciou um pacote emergencial de 750 bilhões de euros (US$ 1 trilhão) e, assim, manter compradores para os títulos dos países do grupo. Contudo, a aplicação dos recursos ainda gera dúvidas no longo prazo.
China têm 1,5% das reservas de minério de ferro do Brasil
Em que pese todo o temor que possa ser causado por um aumento da inflação na China, o fato é que o país tem uma estratégia de desenvolvimento a longo prazo para obter autonomia em suas necessidades de matéria-prima, onde se inclui, por exemplo, a compra de jazidas de minério de ferro, que já leva o asiático a ser detentor, de, pelo menos, 1,5% das reservas brasileiras, estimadas em 26 bilhões de toneladas pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). O patrimônio brasileiro neste particular ocupa o quinto lugar diante das reservas mundiais, estimadas em 370 bilhões de toneladas.
A China tem um consumo de 1,2 bilhão de toneladas de minério de ferro por ano. Desse total, importa 150 milhões de toneladas/ano do metal brasileiro, praticamente metade da produção nacional.
Este percentual de participação chinesa nas jazidas brasileiras foi assegurado em apenas duas transações recentes: a Xinwen Mining Group, uma grande estatal chinesa produtora de minério de ferro, e a siderúrgica Shandong Iron and Steel (SDIS), quarta maior produtora de aço da China controlada pelo governo da província de Shandong, compraram do grupo Votorantim a Sul Americana de Metais, detentora de reservas da ordem de 2,8 bilhões de toneladas de minério de ferro.
Outra megaoperação foi a compra da Itaminas Comércio de Minérios, em Sarzedo, Minas Gerais, por US$ 1,2 bilhão. O comprador foi o Birô de exploração e desenvolvimento Mineral do Leste da China (ECE), entidade que também gravita na esfera estatal.
Paralelamente, outro grupo chinês buscando suprimento, O Wuhan Iron and Steel, comprou 21,5% das ações da mineradora nacional MMX, que já reponde por 1% da produção nacional de minério de ferro.
Embora as operações chinesas sejam de grande porte, não são único potencial de concorrência interna para a maior exportadora brasileira de minério de ferro, a Vale, que, atingida pela crise mundial, reduziu sua produção a 237 milhões de toneladas no ano passado e responde por 84% do total brasileiro. A australiana RioTinto, uma das concorrentes da Vale no mercado internacional, já explora jazidas de ferro em Mato Grosso.
O grupo siderúrgico indiano ArcelorMittal há dois anos assumiu o controle total da London Mining Brasil, que atua na região do Quadrilátero Ferrífero de Minas Geraiscom plano de ampliar a produção a 3 milhões de toneladas/ano.
Mesmo considerando-se a característica estratégica desse tipo de suprimento em termos de soberania nacional, o fato é que a legislação brasileira não oferece qualquer entrave à aquisição de parte de suas reservas minerais por empresas, privadas ou estatais, instrumento básico para as incursões negociais dos chineses ou outros grupos estrangeiros na área mineral brasileira.
O assunto foi tema de embates na assembléia que elaborou a Constituição de 1988. Na Carta, foi definida como brasileira qualquer empresa legalmente criada no país, seja qual for seu controle acionário. Além disso, conforme dispõe o Código Civil, qualquer estrangeiro pode ser acionista, em qualquer percentual, de sociedade anônima brasileira.
Assim, mesmo com a Constituição dispondo que jazidas minerais são propriedade da União, sua exploração pode ser feita por qualquer grupo empresarial, de qualquer lugar do mundo, desde que seguidos os trâmites burocráticos, mediante autorização do governo. Que jamais impediu qualquer operação.

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