Bancos aumentam a disputa por emissões
Veículo: DCI - Data: 24/05 - Fernando TeixeiraSÃO PAULO - A entrada do Banco do Brasil (BB) como banco líder em emissões de títulos deve acirrar a disputa para chefiar as operações de abertura de capital e emissões de dívidas. O mercado brasileiro de emissões movimentou, até o mês de abril, R$ 21, 613 bilhões - soma dos volumes de ofertas primárias e secundárias de ações e títulos de dívida, como debêntures.
A soma de dinheiro arrecadada com as 12 operações (diluídas entre IPOs e ofertas subsequentes), registradas na CVM, até abril, somam quase R$ 11,345 bilhões. Cinco bancos concentraram a liderança nas emissões de ações que aconteceram neste ano - Itaú BBA, Cred Suisse e BTG Pactual, Bradesco BBI e Citigroup.
A liderança em renda variável é disputada principalmente por Itaú BBA, Cred Suisse e BTG Pactual, que lideraram operações de abertura de capital e ofertas subsequentes de ações que somam mais de R$ 3 bilhões.
A maior delas, de R$ 2,018 bilhões, foi o IPO da OSX Brasil (empresa de prestação de serviços no setor de petróleo do grupo de Eike Batista). A venda dos papéis foi chefiada pelo Cred Suisse. A segunda maior foi a oferta subsequente da JBS, de R$ 1,840 bilhão, comandada pelo BTG Pactual.
No campo das dívidas, o predomínio da liderança das operações ficou com os bancos nacionais: Banco do Brasil, Santander, Itaú BBA, Bradesco BBI e BTG Pactual reinaram absolutos.
A maior emissão de debêntures foi da empresa Cemig Geração e Transmissão, chefiada pelo BB Investimentos. O valor alcançado na emissão foi de R$ 2,7 bilhões. Não muito distante, a operação da Telemar rendeu R$ 2, 25 bilhões, liderada pelo Santander.
Banco do Brasil
O Banco do Brasil recebeu este mês autorização do Financial Industry Regulatory Authority (Finra) para atuar no mercado de capitais americano, podendo participar de ofertas de ações, operar com títulos de dívida e fazer corretagem nos Estados Unidos.
O banco já havia recebido no dia 13 de abril, do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o status de Financial Holding Company, que permite ao BB atuar nos EUA como se fosse um banco americano, exercendo todas as atividades do setor, podendo fazer aquisições e atuar no ramo de varejo.
Na visão do diretor presidente da Fractal, Celso Grisi, a entrada de mais um banco de investimento no mercado é muito interessante ao País. "Sobretudo no momento em que a economia está crescendo e empresas apresentam capital de giro apertado. O que se observa é uma grande vontade de crescer e elas precisam de dinheiro", afirma.
Grisi ressalta que a entrada de um banco como o BB acirra a competitividade no sistema financeiro. "Precisamos de mais bancos deste tipo operando no Brasil. Com isso se barateiam os custos de captação."
Ele compara a entrada de mais um banco com o ingresso de mais uma bandeira de cartões de crédito. "É a mesma situação com os cartões de crédito. A demora para o comerciante receber o dinheiro é de até 45 dias e a taxa é de 4%. Nos países mais desenvolvidos não existem estes prazos absurdos", destacou.
O especialista ressalta que para crescer mais o Brasil necessita abrir portas para que bancos de investimentos de outras nacionalidades ingressem no País. "É a hora de crescer e interessa ter uma base industrial e agricultura forte. A entrada do BB neste ramo de negócio aumenta a possibilidade do banco estatal se internacionalizar e atrair mais capital para o Brasil."
Grisi entende que os projetos de modernização do parque industrial, tecnológico e de novos processos são de extrema importância para o crescimento do Brasil. "Empréstimos pelos bancos de investimentos é uma saída, mas existem contrapartidas como a reciprocidade comercial."
O professor do Curso de Administração da ESPM, José Eduardo Balian, também entende que a concorrência vai aumentar com o fortalecimento do BB. Contudo ele enxerga que o banco estatal deveria focar mais em alguns pontos de atuação e não criar mais uma estrutura.
Balian acredita que o BB deveria se concentrar no crédito para o exportador. Para ele, faltou estratégia do governo. "São estruturas muito grandes e pode criar dificuldades para gerenciar. Aumentar para mais um braço é criar um dinossauro difícil de administrar. O governo poderia criar uma outra marca para este tipo de operação", analisou.
Internacionalização
Com a autorização do governo norte-americano para atuar nos EUA, o Banco do Brasil deve fazer aquisições de redes de varejo naquele país.
O vice-presidente de Negócios Internacionais e Atacado, Allan Toledo, disse na semana passada que o Banco do Brasil deve fazer aquisições no exterior, em mercados como o dos EUA, onde existem ao menos 500 marcas em oferta. "Os horizontes se ampliaram muito para o BB lá, não só no varejo, mas também no mercado de capitais."
Na oportunidade, Toledo afirmou que o banco teria capital para fazer aquisições no exterior sem depender da capitalização, prevista para acontecer em julho. "Mesmo sem a captação, temos capital para comprar no exterior, tanto que fizemos a aquisição do Banco Patagonia."
O processo de internacionalização aconteceu quando o Banco do Brasil anunciou a aquisição do Banco da Patagonia, na Argentina. Com a união, o BB passará a ter uma participação de 51% do capital social e votante do banco argentino.
O negócio envolve um valor de US$ 479,6 milhões. O pagamento será parcelado, sendo 5% no ato da assinatura do contrato. O Banco da Patagonia possui 751,6 mil clientes e 154 agências, principalmente em Buenos Aires.
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