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sábado, 18 de junho de 2011

O cineasta que virou escritor

Trata-se do segundo livro de
Jorge Bouquet
Cineasta e escritor. Inventivo, irreverente, provocador. Reproduzo a resenha que mais me agradou.

O BRASIL NUM LIVRO: A SEGUNDA VIDA DE HUGO SANTAMARIA
FRAUDE, DERRUBADA ILEGAL DE FLORESTA, TRABALHO ESCRAVO, REBELIÃO EM PRESÍDIO, GARIMPO, FUGA E TRAIÇÃO SÃO ALGUNS TEMAS DO NOVO LIVRO DE JORGE BOUQUET.
Um poderoso industrial brasileiro encontra-se em Honduras quando o furacão Mitch assola a América Central em 1998, deixando 28 mil mortos. Ao mesmo tempo, ele descobre que a crise russa quebrou a Cruzeiro do Sul, a holding que herdara e dirige. Hugo troca seus documentos pelos de um cadáver vítima do furacão e entra em sua segunda vida. A partir daí, viverá uma fuga constante na qual esvai-se todo vestígio da ética que ele seguira até então. A Segunda Vida é uma reflexão sobre as relações entre o poder, o dinheiro e a virtude.
A estrutura do livro estabelece-se sobre fatos comuns na vida brasileira atual. A trajetória de Hugo Santamaría passa pelo luxo em que vive a alta burguesia brasileira e, depois de sua falência, pela chantagem, pela falsidade ideológica, a mentira, o suborno, uma rebelião em presídio, a derrubada ilegal da floresta amazônica, traição, narcotráfico, garimpo e trabalho escravo, entre outras malfeitorias. Hugo também vai se envolver com o piloto de um pequeno avião que voa na Amazônia para garimpeiros e narcotraficantes.
Assim, o livro é também um afresco sobre o Brasil. Um Brasil que, embora ocupe quase todos os dias as manchetes dos jornais, pode ser chamado de subterrâneo. Um Brasil paralelo, alheio a todos os valores que não se ligam ao desejo de vencer a qualquer custo. Mas à medida em que Hugo Santamaria migra para esse mundo sem ética, ele deixa para trás o mundo em que vivera até então, com seus afetos, amigos, família, honra, responsabilidade, saudades. Mas esta velha realidade sobrevive, contrapondo-se ao seu mundo atual.
 A Segunda Vida de Hugo Santamaría tem forte conteúdo político – as questões econômicas e éticas que envolvem poder e dinheiro. Mas é também um romance de ação: um homem foge de seu destino como se, ao apropriar-se dos documentos de um morto, vestisse também a sua pele. Ao fazer essa opção, movido pela ojeriza à vida dos homens sem poder, Hugo tenta construir para si um outro destino. Uma história com duas faces: uma, política, reflexiva e realista, o Brasil de agora; outra – não menos verossímil – é construída a partir das aventuras e contradições em que seu personagem central é envolvido.
Nas palavras do cineasta Ugo Giorgetti, um “livro cheio de cortes bruscos, mudanças rápidas de paisagens, forte vinculação com a realidade, diálogos diretos, irônicos, na melhor tradição dos filmes noir americanos”.

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