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sábado, 3 de setembro de 2011

Um dia após corte de juros,
preços registram aceleração
Veículo: DCI   -   Data:     02/09
Jornalista: Gustavo Machado
SÃO PAULO - Após a divulgação da nova Taxa Básica de Juros (Taxa Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) anteontem, o mercado começou a buscar informações que pudessem explicar a inesperada queda de 0,5 ponto percentual. De acordo com o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, os dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a serem anunciados hoje, podem trazer informações relevantes sobre a decisão tomada pelo Copom.
Embora o Comitê pareça acreditar em um arrefecimento da economia brasileira no médio prazo, dois índices inflacionários divulgados ontem demonstram que o País permanece aquecido. O Índice de Preços ao Produtor (IPP), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentou alta de 0,07% em julho. Há um mês, o indicador registrou retração de 0,65%. A alta é de 0,63% no ano e de 4,87% em 12 meses. De acordo com a pesquisa, 10 de 23 itens analisados apresentaram variações positivas, contra 8 no mês anterior. Calçados (2,65%), bebida (1,98%) e alimentos (1,35%) foram os que mais aumentaram no período.
Pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) foi divulgado o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) com aceleração para 0,4% na última semana de agosto, ante 0,31% no período anterior. Os indicadores dos grupos alimentação e saúde e cuidados pessoais, com acelerações de 0,55% para 0,8% e 0,36% para 0,46%, respectivamente, apresentaram as maiores altas.
Para Mauro Schneider, economista da Corretora Banif, o Copom pode estar antecipando um cenário iminente no médio e longo prazo. "As decisões do Copom têm efeito defasado na economia real, isto é, em relação à inflação e crédito. Acredito que o ambiente externo preocupante influenciou a reunião", afirmou Schneider.
Schneider cita um trecho do comunicado oficial do Copom em que denota a preocupação da equipe econômica com o desaquecimento interno devido ao cenário externo. De acordo com o comunicado "o comitê entende que a complexidade que cerca o ambiente internacional contribuirá para intensificar e acelerar o processo em curso de moderação da atividade doméstica, que já se manifesta, por exemplo, no recuo das projeções para o crescimento da economia brasileira".
De acordo com André Perfeito, o corte foi tido como desconcertante para grande parte do mercado financeiro. "O BC armou uma situação que terá de ser bem explicada pelo setor externo". Perfeito lembra que os fatores sazonais que fizeram a inflação acelerar no final de 2010 podem não se repetir neste ano, o que pode levar a inflação oficial para dentro da meta do Governo. "O BC entende que a partir do quarto trimestre a inflação anualizada tende a baixa", disse Perfeito.
Segundo o economista, a divulgação hoje do PIB do segundo trimestre pode servir de argumento a favor do Copom. Para Perfeito, caso as projeções de mercado, que apontam para expansão de 0,8% do PIB no segundo trimestre, estejam a superestimar a economia brasileira, o Copom terá menos trabalho para se explicar. "Minha projeção é de 0,35% de crescimento. Se [o PIB] vier abaixo de 0,5%, pode significar que o BC antecipou os dados e trabalha com este novo cenário", explicou.
Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto Fractal, entende que a equipe econômica mudou sua estratégia para combater a inflação. A fim de enfrentar outros desagrados à economia brasileira, como o capital especulativo estrangeiro, a política monetária deixaria de ser o único instrumento ativo passando a dar espaço para uma política fiscal mais austera.
"Penso em uma nova vertente de combate. Ao invés de restrição ao crédito, maiores superávits primários. Isso pode acabar com o vício dos juros altos", explica Grisi. Segundo o diretor-presidente do Fractal, ainda não é possível realizar uma reforma fiscal, porém, o Governo mostra avanços na área. "Nem o Senado, nem a Câmara deixariam passar as propostas, porém, o resgate de uma política industrial representa o início dessa nova vertente com diferentes instrumentos fiscais", conclui.

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