Data: 31.10
Instabilidade atual não diminui otimismo
com a Bovespa
Peter Fussy
Direto de São Paulo
Quase duas semanas depois do início da taxação de 2% sobre investimentos estrangeiros em ações e renda fixa, a medida do governo federal surtiu pouco efeito sobre o volume de capital externo na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e na variação do dólar sobre o real, segundo analistas de mercado. Para eles, a instabilidade dos últimos pregões é fruto da realização de lucros dos investidores, que estão embolsando parte dos ganhos de quase do Ibovespa 80% no ano.
Nesta semana, o principal índice acionário do País oscilou entre queda de 4% e avanço de quase 6%, repetindo a instabilidade dos piores momentos da crise. Contudo, analistas afirmam que a instabilidade não altera a perspectiva de ganhos acima da poupança e fundos de investimentos até o final do ano.
"A bolsa estava em um patamar esticado, com as ações no preço justo. A temporada de balanços empresariais trouxe uma volatilidade para o mercado. A taxação sobre o capital estrangeiro foi anunciada muito próxima do topo do Ibovespa e veio uma realização de lucros. Uma das variáveis é o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), mas não é a questão principal", afirmou Fausto Gouveia, economista da Legan Asset Management.
O governo brasileiro anunciou no último dia 19 que decidiu retomar a taxação do capital estrangeiro que entrar no País para aplicações em renda fixa e variável, por meio de uma alíquota de IOF de 2%, com o intuito de evitar uma valorização exagerada do real e a criação de uma bolha na bolsa de valores pelo excesso de liquidez internacional. Um imposto deste tipo havia sido criado no começo do ano passado, mas foi retirado em setembro de 2008, com o agravamento da crise.
De acordo com o economista Celso Grisi, do Instituto de Pesquisas Fractal, inicialmente houve um abalo grande na confiança com relação à manutenção das regras. Um dia após o anúncio da medida, o Ibovespa registrou a maior queda diária em quatro meses. Depois de ter chegado a cair quase 5% no pior momento da sessão, o índice ainda se recuperou parcialmente e fechou com baixa de 2,88%, aos 65.303 pontos.
"Ficou todo mundo sobressaltado com a intervenção inesperada do governo no mercado cambial. Mas isso tende a ser minimizado ao longo do tempo, perder o efeito. O investimento estrangeiro vai voltar e tende a tornar-se uma medida de eficácia muito duvidosa. Até a metade do ano que vem podemos acreditar que a Bovespa é um investimento de risco, mas dos mais lucrativos.", disse.
"Essa realização já era esperada mesmo sem o IOF. Continuamos apostando na continuidade da alta da bolsa e o dólar continua ladeira abaixo, em função da credibilidade do País, mesmo com a taxação de 2%", afirmou Clodoir Vieira, economista-chefe da Souza Barros.
Segundo Grisi, a tentativa de limitar a entrada de recursos pode ter até efeito contrário. "No médio prazo, a taxação não é uma política que resolve os problemas no câmbio, mas sem dúvida nenhuma vai ter um benefício arrecadatório, o que melhora um pouco a posição fiscal do governo e também inspira a confiança de investidores e volta tudo como antes", explicou. A Receita Federal estima arrecadação anual de cerca de R$ 4 bilhões com o imposto.
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