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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Bônus bancário

Bodes, milhos e paióis
Sobre regulamentação bancária, o mundo aprendeu uma dura lição: não se pode pedir que o bode tome conta do milho. Quem, então, deve assumir o paiol?
Várias alternativas estão sendo estudadas em todo o mundo. A Comissão Européia, órgão executivo da UE, já colocou na mesa sua proposta. Alguns acadêmicos e uns tantos executivos de Bancos Centrais também já trouxeram suas proposições. Os políticos estão alvoroçados. Não é à toa que estejam. Os estados nacionais, sob gestão desses homens, resgataram uma grande parte de seus papéis e funções, retomando o poder perdido para as corporações durante todo o período de globalização econômica. A convicção é generalizada. Não se pode acreditar em auto-regulamentação quando o assunto é bancos. Pior, não se pode deixar quebrar, pois arrastariam toda a economia de roldão. Cunhou-se, então, a expressão de que bancos grandes são inquebráveis.
As propostas de mudança na regulamentação do mercado financeiro apresentam já alguns consensos que devem nortear os esforços de estabilidade do sistema bancário internacional. O mais óbvio é a redução da alavancagem das instituições consideradas “inquebráveis”. Saudável, sem dúvida, lembrando, entretanto, que essa decisão reduz a rentabilidade do negócio financeiro. Outro consenso, inegavelmente necessário, é o da redução da exposição dos bancos a riscos sistêmicos. Para ter eficácia essas medidas naturalmente pressupõem a criação de instrumentos de supervisão, no âmbito dos governos nacionais ou das instituições supranacionais, bastante eficientes. Isso passa pela formulação de um novo marco regulatório para o exercício dessa atividade, bem como por uma normatização contábil, capaz garantir demonstrativos fiéis e transparentes.
Capítulo importante, mas para o qual as proposta ainda não conseguiram contemplar suficientemente é o dos riscos de operações com securitização de dívidas de estados ou de grandes grupos e as de derivativos. Também, há preocupações com as aquisições alavancadas nas operações de private equity e as realizadas com os chamados hedge funds.
Maior segurança, com maior capitalização e maior liquidez marcam todas essas medidas desenhadas para o novo sistema financeiro mundial. Todas implicam redução dos lucros das instituições e restrições às formas societárias com finalidades específicas. Riscos vão ser controlados por tecnocratas. Eles seriam os donos do paiol. Não acredito possível. Bônus e lucros transformaram-se vilões do capitalismo. Haverá muitos bodes e não existirá mais milho. Irreal, mas sem dúvida, curioso, não lhe parece?

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