Bancos dos EUA ainda têm dificuldade no Brasil
Veículo: DCI - Data: 02/02/10 - José GuerraSÃO PAULO - O grupo de bancos que mais sofreu com a crise em 2009, os que possuem matriz no exterior, terá duas realidades distintas em 2010. Enquanto os bancos europeus devem investir em crescimento e expansão do crédito, com uma atitude mais agressiva, as instituições norte-americanas devem sofrer com reduções de carteira, devido às incertezas que rondam as matrizes.
Segundo o professor da Brazilian Business School (BBS), Ricardo Torres, os bancos norte-americanos acabaram de repagar os empréstimos feitos pelo Federal reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) e ainda enfrentam uma série de incertezas jurídicas devido à proposta de mudanças na regulamentação. "Como as matrizes estão nessas dificuldades, enquanto perdurarem as incertezas irão reduzir a tomada de risco e ter certa relutância em investir", argumenta. Ainda segundo Torres, essa situação deve durar pelo menos nos seis primeiros meses do ano, até que as instituições tenham uma visão clara do futuro.
O maior banco norte-americano no País, o Citibank - com um total de R$ 44,242 bilhões em ativos até setembro do ano passado, segundo dados do Banco Central - se encaixa nessa ala. Segundo os especialistas, a instituição no País está posicionada de uma forma que não condiz com seu tamanho no mundo, restando como alternativa crescer ou vender.
"O Citi encontra-se em uma zona nebulosa", diz Torres. Isso porque, diz, o banco está muito relacionado às classes mais altas, o que dificulta a aceitação pelas camadas mais baixas.
"Isso não é mais verdade, no entanto é muito difícil mudar essa percepção". Segundo ele, o Citi precisa tomar uma decisão de crescer ou permanecerá na "berlinda" do sistema financeiro. "Isso é uma situação que fragiliza a instituição perante o mercado, sendo mais fácil aparecerem propostas de aquisição por outros bancos".Torres afirma que a situação de fragilidade vem da matriz internacional, que sofreu com a crise financeira. "A matriz acabou perdendo o foco, a personalidade, e isso prejudica a instituição no mundo", diz.
Para o diretor executivo da Fractal Instituto de Pesquisa, Celso Grisi, o Citi deve buscar crescimento e diversificação de mercado. "Isso já foi iniciado. O banco estava muito ligado às grandes empresas e pessoa física mais alta. Porém, já começou uma reestruturação e expansão orgânica para camadas mais baixas e middle market", avalia.
Ainda segundo ele, o banco norte-americano poderia ainda buscar parcerias e aquisições para crescer. "E essa pode ser uma estratégia de outras instituições internacionais para ganhar corpo no País e crescer". Para ele, o Citibank é um banco muito grande "para se conformar com esse tamanho no Brasil".
Em 2009, até dezembro, o Citibank teve um crescimento de 9,2% em seus ativos, a R$ 44,242 bilhões. No período, os depósitos chegaram a R$ 11,9 bilhões, um crescimento de 42%. A carteira de crédito, no entanto apresentou um recuo de 3,6%, a R$ 9,4 bilhões, com o número de agências estável em 127 unidades.
Europeus
Nesse ponto, dizem os analistas, os maiores europeus no País - Santander e HSBC - são muito parecidos com os grandes bancos privados locais, com rede de agências pulverizada e captação interna. Por isso, diz Torres, da BBS, a expansão em 2010 deverá ser parecida com as instituições locais. "Há vontade de crescer e expandir o crédito", diz.
Além disso, há o interesse de outras instituições em entrar no País. "Depois da crise, há uma distinção entre o posicionamento europeu. A União Européia vê grandes possibilidades no país e há mais bancos interessados neste mercado".
Segundo Grisi, da Fractal, enquanto os bancos brasileiros estão interessados em se internacionalizar, os estrangeiros querem aumentar a participação no País. "Os bancos internacionais devem buscar uma posição no Brasil, não só como bancos de investimento, mas também com uma estrutura mais próxima de bancos de varejo", diz, no que incluiria assumir mais riscos e projetos de investimentos. Ainda segundo ele, o Brasil é visto como um local interessante para se fazer negócios e "deve ser uma das prioridades dos bancos".
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