Normalmente frases de efeito passam despercebidas se o emissor não for relevante.
Não é o caso de PAUL VOLCKER, que foi presidente do Banco Central Americano (FED) por mais de dez anos nos governos de Jimmy Carter e Ronald Reagan. Suas credenciais fazem suas palavras mais fortes no mundo financeiro (afinal suas raízes estão lá).
O sarcasmo que está embutido na frase é fruto de sua perplexidade frente aos “avanços tecnológicos da indústria financeira americana” que levaram a crise de 2008.
Poderia ser entendido também como uma provocação, numa tentativa (vã?) em fazer com que o sistema financeiro contribua eficazmente para a economia real. Sua decepção em perceber que os “high potentials” não agregaram valor a sociedade nestes últimos 30 anos, só é menor que a constatação que nada irá mudar.
Não bastasse isso outro expoente da regulação da indústria financeira britânica - Lord Adair Turner - foi mais objetivo e categórico em suas afirmações. Presidente da Financial Services Authrority para o Reino Unido fez um discurso no dia 15 de fevereiro que impressiona pela honestidade intelectual. Entre outras frases vale destacar:
1) “..o sistema financeiro mundial tornou-se grande demais em relação ao tamanho das economias, sendo em grande parte inútil..”
2) “..parte das inovações financeiras dos últimas 30 anos e da teoria que a fundamentava era apenas reflexo de grupos de interesses...”
Suas palavras buscam estudos recentes da LONDON BUSINESS SCHOOL que demonstram que efeitos positivos das inovações financeiras podem ser muito pequenos (ou até mesmo negativos, quando ocorrem choques financeiros -como o de 2008).
Sua maior crítica está concentrada em operações do tipo “carry trade”. Toma-se um empréstimo numa moeda onde há juros menores e se investe em uma outra moeda com juros maiores. O Brasil sempre sentiu os efeitos desta operação, pois sempre liderou a taxa de juros reais.
Não se trata de demonizar a operação, mas mostrar que o ganho líquido para as economias envolvidas é negativo (e em nenhum momento gera-se um valor tangível para a sociedade).
Os exageros das declarações de ambos refletem um sentimento de impotência frente aos desdobramentos da crise financeira. Depois de observar in loco a devastação do sistema financeiro americano (rapidamente recuperado graças às intervenções governamentais) percebem agora que países (e não apenas bancos) poderão afundar sob o efeito dos déficits gêmeos (dívidas interna e externa).
Esta reflexão de 2 importantes reguladores mostra um avanço, pois reconhecem deficiências estruturais. Eles buscam soluções para o futuro, preservando desse modo o sistema que criticam...
Paul Volcker e Lord Adair Turner são exemplos de um sistema que privelegia o livre pensar: Traz o antídoto ao veneno que ele mesmo cria.
Prof Ramiro Gonçalez - ramirogon@uol.com.br
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