Banner

Translate

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Vestir a camisa?

Para profissionais de RH
Desagrada-me, como palestrante, professor ou mesmo como consultor, ser apresentado a um grupo formado pelos chamados high potentials. A idéia contida nessa expressão é arrogante, elitista, excludente e, pior, sempre falsa. Sob essa expressão, desnecessariamente americana, tenho convivido com alguns indivíduos que o senso comum cunha com outra expressão, igualmente deselegante, os “jegues”.
Desagrada-me mais ainda ouvir que, nos tempos de hoje, as pessoas estão mais comprometidas com seus projetos pessoais do que com as organizações em que trabalham. E que, para acelerar sua ascensão profissional, indivíduos mudam rapidamente de uma empresa para outra.
Finalmente, desagrada-me saber que, a pretexto do desenvolvimento de intra-empreendedores, as remunerações variáveis superam as remunerações fixas, tudo escamoteado sob a capa da valorização do profissional, desnecessariamente classificado em língua inglesa, como results oriented.
A hipocrisia da teorização sobre gestão de pessoas veio abaixo com a crise financeira internacional. Em português, dir-se-ia apenas, ruiu. Ou de forma mais grosseira e deselegante, “sujou geral”.
O Valor Econômico de hoje dá conta de que o Banco Central colocou, em audiência pública, proposta para regulamentar a remuneração dos administradores e funcionários de instituições financeiras. Tudo sob recomendação do G-20, que objetiva desencorajar práticas que levam à assunção de riscos excessivos, como forma de fortalecer a estabilidade do sistema e alinhar as práticas de remuneração com a criação de valor a longo prazo ( o grifo é meu). O Valor frisa que “um dos pontos é a vinculação de ao menos 50% do salário variável do executivo – bônus- ao valor da ação do banco, ou seja, se a preformance do banco é boa e leva à alta no valor do papel, a remuneração do executivo aumenta, e vice –versa. Outra medida é fazer com que ao menos 40% do bônus ocorra a cada três anos- o que possibilitará que , caso uma decisão do administrador, tomada no ano se mostre negativa no futuro, o bônus caia.”
A verdade é que o G-20 identificou, como uma das maiores causas de crises como essa, o fato de que a busca por maiores bônus faz com que os executivos de bancos aumentem os riscos das operações financeiras.
Agora, bônus só para quem pensar a empresa no longo prazo. Não dá mais para ficar “pulando de galho em galho”, à busca de promoções motivadas pelo arrojo das decisões com o dinheiro alheio, pela criatividade inconseqüente e pela busca dos interesses pessoais.
Voltou-se a valorizar o pensamento estratégico. Comprometido com a organização, seus valores, seus colaboradores, seus consumidores, seus fornecedores.
O caminho pede um retorno à ética. Mais que os resultados, importam os meios de produzi-los, o respeito aos públicos relevantes da organização. Funcionários, fornecedores, consumidores importam. Importam mais do que o lucro para além do razoável. Importam mais do que a remuneração excessiva de poucos. Comprometimento com organizações volta a ser critério para subir na vida, pois, no frigir dos ovos, o G-20 preservou à ganância seu verdadeiro status: de pecado capital.

Nenhum comentário:

Postar um comentário