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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Primarização da economia mineira

Câmbio afeta evolução
da indústria de Minas
Veículo: Diário do Comércio de BH   -   Data: 18-08-2010
LUCIANE LISBOA.
Falta política industrial de Estado.
O câmbio sobrevalorizado, a falta de investimentos em tecnologia e a ausência de uma política industrial do Estado, são os principais fatores para o déficit da balança comercial de produtos manufaturados em Minas Gerais, apontaram especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO.
De janeiro a julho, o saldo negativo nas trocas de produtos industrializados em Minas Gerais chegou a R$ 1,025 bilhão, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O desequilíbrio pode gerar desemprego nos segmento mais expostos à competição externa e, no longo prazo, desindustrialização de setores nacionais.
De acordo com o presidente do Instituto de Pesquisa Fractal e professor de pós-graduação da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Celso Cláudio e Grisi, o câmbio atual desfavorável, aliado à alta taxa de juros e ao elevado custo Brasil, está fazendo com que a indústria mineira perca cada dia mais sua competitividade no mercado externo.
"Minas Gerais passa por um período interessante. Enquanto vê o aumento da exportação de commodities, principalmente do minério de ferro, impulsionadas pela demanda chinesa, a indústria de manufaturados vem sofrendo com o aumento da importação, principalmente o setor de bens de capital", afirmou.
le ressaltou que o Brasil tem uma sobrevalorização do real frente ao dólar de cerca de 25%, enquanto a moeda chinesa yuan possui desvalorização de 40%. "Assim fica difícil competir. Perdemos totalmente a competitividade. No setor de máquinas e equipamentos, há hoje produtos importados de origem chinesa de boa qualidade no mercado a preços bem interessantes", ressaltou.
E com o aumento da importação, mesmo diante de um mercado interno aquecido, o especialista alerta que poderá ocorrer uma redução considerável no nível de emprego nos setores atingidos. "O mercado interno está bastante aquecido, o que mascara o desemprego da indústria dos manufaturados, principalmente os produtos destinados à exportação", disse.
Choradeira - Para o professor de Economia da Faculdade IBS/Fundação Getúlio Vargas (FGV), Jean Max Tavares, o problema de Minas Gerais é ter sua economia fortemente baseada em produtos básicos, como minério de ferro, que dependem exclusivamente do preço que são taxados externamente.
"Quando temos uma concorrência que é baseada somente no preço, a indústria fica vulnerável às oscilações da economia externa, à taxa de câmbio, já que não têm controle do valor negociado", afirmou o professor.
Por outro lado, o professor lembrou que nada adianta ficar colocando a culpa na China. "O problema existe, não há como negar. E é a indústria mineira que tem que buscar formas de mudar, investindo para voltar a ser competitiva. O governo pode ajudar, mas não vai nunca resolver o problema sozinho", avaliou.
O economista da MBK Investimentos, Renato Gonzaga, partilha da opinião de Tavares. Segundo ele, atualmente, a reclamação excessiva de alguns setores da economia em relação à perda de competitividade está parecendo mais "choradeira de quem sempre estava acostumado a lucrar muito sem grandes esforços".
"Agora, com as perdas causadas pela taxa de câmbio desfavorável, a maioria fica reclamando do governo, querendo uma série de incentivos para competir com os produtos importados. A saída não é essa, é investir para agregar valor ao produto e apresentar um diferencial", afirmou.
Conforme os últimos indicadores apresentados pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), referentes ao primeiro semestre, o setor industrial mineiro deverá crescer menos do que o esperado para o ano. A previsão de faturamento, que era de 15% até o final de 2010, foi revisada para cerca de 11%.

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