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domingo, 5 de dezembro de 2010

Demorou muito.

Retardar é fácil. Agir tem um custo político.
Você que acompanha esse blog sabe o quanto tenho insistido que o aumento de juros é um instrumento que, no Brasil de hoje, já perdeu parte de sua eficácia. Os juros já são muito altos e começam a mostrar sinais de exaustão no combate à inflação.
Venho sugerindo desde o início desse ano que o crédito tem sido ofertado de forma muito abundante, com ênfase nas modalidades que privilegiam o consumo e deixam quase à margem o estimulo à patrimonialização familiar e à formação das poupanças individuais.
Não fossem os financiamentos dirigidos à aquisição de veículos e de imóveis residenciais, a política de crédito teria contemplado exclusivamente o crescimento da demanda, por meio do aumento do consumo individual.
Foi preciso atingir os níveis excessivos de endividamento das famílias brasileiras e assistir a um eventual descontrole inflacionário para o governo entender a necessidade de maior austeridade na condução da vida econômica do país. O preço político a pagar implica a renúncia de alguns pontos percentuais de popularidade e de aceitação do Chefe do Executivo. Isso é assim mesmo.
De fato, esse custo é muito baixo se lembrarmos que, entre os muitos benefícios que essas medidas trazem à inflação, à sustentabilidade do crescimento nacional e às famílias, elas abrem espaço para um novo ciclo de redução dos juros básicos e, por consequência, da dívida pública.
Não se pode falar em aperto de crédito, sem ser impróprio. Estamos diante apenas de um contingenciamento de quantidades e de prazos excessivos que provocavam o aumento dos encargos da dívida pública, impedindo a realização do sonho nacional: o superávit nominal. O Tesouro Nacional pode, com essas medidas e com o cumprimento das promessas do governo eleito, efetuar cortes de despesas, planejar superávits importantes à saúde econômica do país, no longo prazo.
A Selic é cruel na medida em que amplia a dívida federal, mas, de igual maneira, será benéfica, quando reduzida. O endividamento sofreria um a alívio, acelerando o saneamento do orçamento nacional. O Copom tem espaço para pensar assim, a partir desse final de semana e não deve hesitar em decidir. Não há mais razões para subir esses juros.
A elevação do compulsório e o reforço das reservas das operações de crédito de longo prazo provocam efeitos profundos e têm impactos mais duradouros sobre todo sistema monetário.
O aumento dos limites de recolhimento ao Banco Central, aos quais os bancos estão compulsoriamente sujeitos, enxuga a liquidez do sistema e retira do mercado dinheiro que certamente ganharia a direção dos empréstimos.
As estimativas dão conta de um enxugamento na casa dos R$ 61 bilhões, um valor significativo que desfaz as ameaças de formação de bolhas no mercado creditício e de altas dos preços decorrentes de fatores não sazonais.
Em reforço, o Conselho Monetário Nacional ampliou as garantias que o sistema bancário precisa fazer para arcar com os riscos de inadimplência em várias modalidades de financiamentos. As instituições financeiras deverão manter R$ 16,50 de capital para cada R$ 100,00 que emprestam no mercado, ao invés dos apenas R$ 11,00 que mantinham antes dessa decisão do Conselho. Essa medida alcança as operações de crédito direto ao consumidor, de mais de 24 meses, empréstimos consignados, de 36 ou mais meses. Para as operações com veículos essas exigências estarão vinculadas ao prazo do financiamento e ao valor dado como entrada na aquisição desses bens.
O mais animador foi ver que o contingenciamento aconteceu de forma seletiva, como vínhamos sugerindo em nossas postagens. As operações de crédito rural, imobiliário e de financiamento ou arrendamento mercantil de veículos de carga permanecem na regra antiga.
Vale também insistir na idéia de que ao atingir os bancos, as medidas punem o consumo que vai se encontrar com taxas mais altas de juros.
Aos bancos, no seu papel de intermediação, não caberá outra decisão senão a de aumentar os spreads.

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