Em busca do caminho das pedras
Siderurgia Brasil — Edição 52
A democracia consolidada oferece condições para o
Brasil enfrentar a crise da economia internacional com medidas rápidas e
eficientes.
Em qualquer análise que se faça sobre as perspectivas
para o Brasil, há três variáveis fundamentais que precisam ser levadas
em consideração. A primeira é a recuperação do crescimento mundial. Se o
mundo, de fato, entrar num processo de recuperação como alguns
especialistas estão prevendo, o Brasil deve ir a reboque, recuperando o
ritmo de crescimento anterior aos eventos de 2008, que interromperam um
extenso ciclo de prosperidade econômica. Mas, apesar de alguns sinais
positivos e do otimismo de alguns, há que se considerar as dificuldades
encontradas pelos líderes do G 20 em implementar medidas internacionais
necessárias que possam mudar tão rapidamente o cenário atual. Por
prudência, é melhor não alimentar expectativas tão favoráveis que
provavelmente venham a não se confirmar. O segundo fator que poderia
ativar a economia brasileira seria a recuperação dos preços das
commodities exportadas, sejam elas agrícolas, petroquímicas ou
metálicas. Mas também esses mercados não mostram sinais tão fortes de
recuperação nos próximos meses. Os preços estão se acomodando nos
patamares atuais, com algumas diferenças entre um mercado e outro, como,
por exemplo, no caso do açúcar e do álcool, cujos preços caíram
bastante, ou do petróleo, que acabou encontrando um patamar, com
pequenas oscilações em torno dele. A soja e o milho já estão num patamar
mais estável. O alumínio e o ferro se depreciaram significativamente,
com demandas bem menores, mas a tendência é que não venham a sofrer
novas reduções. Ao contrário, podem até reagir levemente. Portanto, a
recuperação dos preços das commodities também deve ser considerada
apenas uma variável que não aprofundará a crise e que emprestará algum
estímulo, ainda que relativamente modesto, ao crescimento interno.
O que nos resta é confiar no aumento da demanda internacional, pelas condições estruturais da economia nacional e pela crença na eficácia das chamadas medidas anticíclicas. O PIB do Brasil alcança valores superiores a 1,3 trilhão de dólares, o que faz entender a magnitude de nosso mercado interno e do potencial de geração de riqueza dessa economia. Trata-se de uma economia plurissetorial, moderna e competitiva, com um parque industrial diversificado e uma agricultura robusta, que aumentaram, num passado recente, seus índices de produtividade para enfrentar o prolongado período de apreciação do real. Esse período se caracterizou por um aumento expressivo nos investimentos externos diretos, que modernizaram o parque produtivo nacional. A política econômica oficial tem sido também tranquilizadora, preservando a estabilidade monetária e a política de câmbio flexível. Se, de um lado, o câmbio castigou as empresas nas suas vendas ao exterior e na competição com produtos importados, por outro, obrigou-as a serem mais competitivas e resistentes a momentos de redução dos níveis de atividade mundial. Temos superávits fiscais expressivos – que agora se deterioram com a proximidade do ano eleitoral que se avizinha –, e uma dívida interna que está sendo administrada de forma razoavelmente eficiente. Esse quadro é reforçado pela dimensão das reservas externas acumuladas. Adicionalmente, há que se ter presente a existência de um sistema bancário sólido, absolutamente solvente e sofisticado, e, por fim, um ambiente político que se diferencia dos demais países do chamado Brics – Índia, China e Rússia –, pelo fato de termos uma democracia consolidada.
O Brasil tem instrumentos para enfrentar a crise, principalmente monetários. O Banco Central poderia reduzir a taxa de juros, o que seria alentador para toda a economia. Poderia também liberar os depósitos compulsórios, que são bastante expressivos, tanto nas contas correntes quanto nas cadernetas de poupança. Há também de se lembrar da ampliação dos investimentos, ocorrida nos últimos anos. Só de investimentos externos diretos, até dezembro de 2008, tivemos 45 bilhões de dólares. O PAC também injetou um bom dinheiro na economia, assim como as PPPs – ainda que de forma modesta. Recursos públicos e privados, nacionais e internacionais, foram injetados no país, evitando o alastramento do desemprego e da crise de crédito vivida nesse instante.
Os investimentos privados estiveram voltados para os mais variados segmentos produtivos da economia brasileira, com um resultado muito positivo, mas, agora, para fazer frente à crise, são necessárias algumas medidas governamentais. Por exemplo, a recomposição da oferta de crédito, estimulada pelo seguro criado como garantia aos investidores, o corte dos gastos governamentais, transformando essas economias em rubricas de investimentos, em todos os níveis: federal, municipal e estadual. O governo também deve levar adiante as políticas de valorização do salário mínimo e de criação de emprego, sobretudo para as classes mais baixas. Também deve continuar com os programas sociais e assistenciais. O que importa neste momento é que, sem essas políticas, a renda pode cair de maneira a intensificar a queda da demanda. Se essas medidas forem implementadas, o PIB brasileiro pode crescer entre 2% e 2,5%, o que faria a economia crescer num ritmo mais intenso do que o crescimento da população.
Do ponto de vista fiscal, o governo não tem mais muito espaço; ele não fez os cortes na hora em que tinha que fazer e, agora, ele não pode abrir mão de impostos, fazer renúncias fiscais ou favorecer determinados setores. Manter esse festival de gastos para aparelhar o Estado já bateu o limite do possível. A solução passará por dirigir muito bem a política de investimentos, porque isso pode ajudar a manter a demanda aquecida.
A indústria automobilística está vivendo um momento privilegiado e isso era realmente necessário, porque, se não, o desemprego aumentaria. O fôlego a esse setor vai ser dado sempre por duas variáveis. O crescimento da demanda de um lado, se a demanda continuar ativa em função do nível de emprego e, por outro lado, o crédito, isto é, se o governo conseguir baixar as taxas de juros e alongar os prazos de financiamento. Isso conseguiria manter um ritmo razoável na indústria automobilística, mas claro que não tão intenso quanto vinha acontecendo.
O que podemos esperar para este ano é um período de dificuldades, de demanda num nível muito mais baixo do que no ano passado, provavelmente com um crescimento meramente vegetativo ou, se bem administrado, levemente superior a isso. Se o PIB crescer acima da taxa de crescimento da população, ou seja, por volta de 2% ou 2,5%, já será um bom resultado.
A mensagem para o empresário é que o mercado vai se tornar mais competitivo. Ele precisa conduzir sua operação pensando nas escalas econômicas, nos ganhos de produtividade, na redução dos custos de distribuição e de logística, e no aperfeiçoamento da qualidade, porque essas são as variáveis definitivamente relevantes nessa competição. Ele está diante de um consumidor que vai tentar maximizar o poder de compra de sua renda e vai buscar a melhor relação custo-benefício. Outras estratégias que precisam ser revistas e aprofundadas são as de segmentação de mercado, sobretudo nas empresas voltadas ao consumo final. É necessário ressegmentar esses mercados e atendê-los melhor e de forma ainda mais precisa.
Também não há como abrir mão das políticas de lançamento de novos produtos, através de marcas de combate ou marcas próprias. Essas marcas abrigam as versões econômicas e têm mais chances de ser compradas, porque combinam qualidade com preço baixo, maximizando a percepção da relação custo-benefício do consumidor. Os custos de distribuição devem ser revistos, já que ainda existem algumas cadeias muito longas, que podem ser reduzidas. É fundamental chegar mais próximo dos consumidores com um número menor de intermediários. Por último, as empresas também devem pensar em reforçar o seu caixa, buscando aporte de capital entre seus acionistas, por exemplo, ou vendendo ativos não operacionais. O crédito é raro, mas não faz sentido buscar créditos com custos elevados.
O que nos resta é confiar no aumento da demanda internacional, pelas condições estruturais da economia nacional e pela crença na eficácia das chamadas medidas anticíclicas. O PIB do Brasil alcança valores superiores a 1,3 trilhão de dólares, o que faz entender a magnitude de nosso mercado interno e do potencial de geração de riqueza dessa economia. Trata-se de uma economia plurissetorial, moderna e competitiva, com um parque industrial diversificado e uma agricultura robusta, que aumentaram, num passado recente, seus índices de produtividade para enfrentar o prolongado período de apreciação do real. Esse período se caracterizou por um aumento expressivo nos investimentos externos diretos, que modernizaram o parque produtivo nacional. A política econômica oficial tem sido também tranquilizadora, preservando a estabilidade monetária e a política de câmbio flexível. Se, de um lado, o câmbio castigou as empresas nas suas vendas ao exterior e na competição com produtos importados, por outro, obrigou-as a serem mais competitivas e resistentes a momentos de redução dos níveis de atividade mundial. Temos superávits fiscais expressivos – que agora se deterioram com a proximidade do ano eleitoral que se avizinha –, e uma dívida interna que está sendo administrada de forma razoavelmente eficiente. Esse quadro é reforçado pela dimensão das reservas externas acumuladas. Adicionalmente, há que se ter presente a existência de um sistema bancário sólido, absolutamente solvente e sofisticado, e, por fim, um ambiente político que se diferencia dos demais países do chamado Brics – Índia, China e Rússia –, pelo fato de termos uma democracia consolidada.
O Brasil tem instrumentos para enfrentar a crise, principalmente monetários. O Banco Central poderia reduzir a taxa de juros, o que seria alentador para toda a economia. Poderia também liberar os depósitos compulsórios, que são bastante expressivos, tanto nas contas correntes quanto nas cadernetas de poupança. Há também de se lembrar da ampliação dos investimentos, ocorrida nos últimos anos. Só de investimentos externos diretos, até dezembro de 2008, tivemos 45 bilhões de dólares. O PAC também injetou um bom dinheiro na economia, assim como as PPPs – ainda que de forma modesta. Recursos públicos e privados, nacionais e internacionais, foram injetados no país, evitando o alastramento do desemprego e da crise de crédito vivida nesse instante.
Os investimentos privados estiveram voltados para os mais variados segmentos produtivos da economia brasileira, com um resultado muito positivo, mas, agora, para fazer frente à crise, são necessárias algumas medidas governamentais. Por exemplo, a recomposição da oferta de crédito, estimulada pelo seguro criado como garantia aos investidores, o corte dos gastos governamentais, transformando essas economias em rubricas de investimentos, em todos os níveis: federal, municipal e estadual. O governo também deve levar adiante as políticas de valorização do salário mínimo e de criação de emprego, sobretudo para as classes mais baixas. Também deve continuar com os programas sociais e assistenciais. O que importa neste momento é que, sem essas políticas, a renda pode cair de maneira a intensificar a queda da demanda. Se essas medidas forem implementadas, o PIB brasileiro pode crescer entre 2% e 2,5%, o que faria a economia crescer num ritmo mais intenso do que o crescimento da população.
Do ponto de vista fiscal, o governo não tem mais muito espaço; ele não fez os cortes na hora em que tinha que fazer e, agora, ele não pode abrir mão de impostos, fazer renúncias fiscais ou favorecer determinados setores. Manter esse festival de gastos para aparelhar o Estado já bateu o limite do possível. A solução passará por dirigir muito bem a política de investimentos, porque isso pode ajudar a manter a demanda aquecida.
A indústria automobilística está vivendo um momento privilegiado e isso era realmente necessário, porque, se não, o desemprego aumentaria. O fôlego a esse setor vai ser dado sempre por duas variáveis. O crescimento da demanda de um lado, se a demanda continuar ativa em função do nível de emprego e, por outro lado, o crédito, isto é, se o governo conseguir baixar as taxas de juros e alongar os prazos de financiamento. Isso conseguiria manter um ritmo razoável na indústria automobilística, mas claro que não tão intenso quanto vinha acontecendo.
O que podemos esperar para este ano é um período de dificuldades, de demanda num nível muito mais baixo do que no ano passado, provavelmente com um crescimento meramente vegetativo ou, se bem administrado, levemente superior a isso. Se o PIB crescer acima da taxa de crescimento da população, ou seja, por volta de 2% ou 2,5%, já será um bom resultado.
A mensagem para o empresário é que o mercado vai se tornar mais competitivo. Ele precisa conduzir sua operação pensando nas escalas econômicas, nos ganhos de produtividade, na redução dos custos de distribuição e de logística, e no aperfeiçoamento da qualidade, porque essas são as variáveis definitivamente relevantes nessa competição. Ele está diante de um consumidor que vai tentar maximizar o poder de compra de sua renda e vai buscar a melhor relação custo-benefício. Outras estratégias que precisam ser revistas e aprofundadas são as de segmentação de mercado, sobretudo nas empresas voltadas ao consumo final. É necessário ressegmentar esses mercados e atendê-los melhor e de forma ainda mais precisa.
Também não há como abrir mão das políticas de lançamento de novos produtos, através de marcas de combate ou marcas próprias. Essas marcas abrigam as versões econômicas e têm mais chances de ser compradas, porque combinam qualidade com preço baixo, maximizando a percepção da relação custo-benefício do consumidor. Os custos de distribuição devem ser revistos, já que ainda existem algumas cadeias muito longas, que podem ser reduzidas. É fundamental chegar mais próximo dos consumidores com um número menor de intermediários. Por último, as empresas também devem pensar em reforçar o seu caixa, buscando aporte de capital entre seus acionistas, por exemplo, ou vendendo ativos não operacionais. O crédito é raro, mas não faz sentido buscar créditos com custos elevados.
*Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi é graduado em
Economia e Direito, diretor presidente do Instituto de Pesquisa Fractal e
professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, e da FIA –
Fundação Instituto de Administração da USP.
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